Sunday, October 24, 2010

"Lixo Extraordinário" e a minha vida

Hoje fui ver o documentário "Lixo Extraordinário" onde o artista Vik Muniz é um dos principais protagonistas de uma história de heróis contemporânea. A experiência que começa como um projeto para "devolver algo à comunidade", ao lugar de onde Vik veio (Brasil), com a ideia de fazer arte do lixo, acaba indo indo mais longe do que o esperado. Acaba transformando o próprio Vik e todos os envolvidos de forma inesperada.

Na sessão de hoje, que foi na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o diretor João Jardim, esteve presente. Ele mesmo disse que não imaginava o valor oculto nas pessoas que trabalham em tal lugar, descrito pelo próprio Vik algo como "a camada mais baixa da sociedade". No filme Vik diz que achava que as pessoas que alí estavam eram como o lugar: lixo. Porém, sem uma atitude de pretensão, ele foi ao encontro dessa gente, para trazê-los ao centro dos holofotes. A ideia era fotografá-los, fazer arte e com isso contribuir para a melhoria da vida dessas pessoas. Afinal ele por ter sido pobre um dia, não fazia questão em se exibir, e como toda pessoa brilhante e sensível que vem de baixo e surge, queria simplesmente mostrar que o, que eu chamo de, elitismo, no Brasil é perverso e que algo ao fim deve ser feito para combater essa indiferença ao sofrimento alheio.

Vik, obviamente, aos poucos, foi percebendo a extraordinária beleza oculta na vida dessas pessoas. Mal sabia ele que a história dessas pessoas era fora do comum. Eram simplesmente histórias de pessoas honestas, sábias, trabalhadores, felizes, e muito mais humanas do que a maioria. Além disso, percebeu como era ele o que mais aprendia com essas pessoas. No fim, nem o lixo era realmente lixo, ou era, porém extraordinário.

Achei o filme impressionante pela sinceridade tanto do Vik, como das pessoas. O filme passa uma imagem que quase sempre nossa sociedade insiste em virar a cara. Isso e o caráter transformador do filme o fazem ser simplesmente imperdível para qualquer um que acredita que mudanças são possiveis ainda que nas mais inóspitas situações.

Queria há tempos escrever sobre como tenho me sentido nesses últimos meses desde que voltei. Esse filme simplificou tudo. De um lado, sinto o desejo de Vik. Sinto que devo devolver algo à sociedade. Me sinto muito sortuda, rica, mesmo não tendo muito dinheiro ou fama, por ter aprendido e vivido tudo o que vivi. De outro lado, me vejo na posição de Vik, sendo apenas uma ferramenta na vida de outras pessoas que acreditam em um projeto transformador, seja ele qual for.

Acredito que a história de cada um de nós é única. O fato de eu não ter virado símbolo ou referência mundial em alguma coisa não quer dizer que não tenha como fechar o ciclo que comecei há aprox. 12 anos atrás quando me encontrava atada a um passado de sofrimento e pobreza. Ainda falta muito, falta conquistar coisas que me façam sentir que estou "garantida", uma casa, um trabalho, uma familia. Mas, ao mesmo tempo, não sinto que preciso disso tudo para poder dar início a um trabalho mais profundo na sociedade. Não acredito que a 'responsabilidade social' tenha que vir somente das empresas, do governo ou dos indíviduos que estão bem financeiramente. Ela deve vir de todas as esferas da sociedade.

O que pretendo fazer nos próximos dois meses é me dedicar em tempo integral ao meu trabalho na comunidade. Esse é meu projeto agora. Não há tempo a perder. Cada dia mais estou convencida que é tempo de dar espaço para isso acontecer. E nada melhor do que olhar para as origens. Começar de onde tudo começou.

Vik é um herói, aquele que após longa jornada volta à casa e traz com ele um olhar de fora. Uma luz, uma esperança. Que a vida das pessoas do filme e, a do Vik mesmo, sirvam como exemplo para todos nós.

A seguir, vejam o trailer do extraordinário filme "Lixo Extraordinário":




"Quando perdemos a capacidade de indignarmos ante atrocidades sofridas pelos outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados"
-Vladimir Herzog

Saturday, October 23, 2010

Under construction...

Lembram do post onde falei da canção "Se essa rua, se essa rua fosse minha..."? Pois bem, agora literalmente, essa rua em questão é a minha... se essa rua fosse minha eu mandava asfaltar já!! rs

Acontece que nos últimos dias a rua onde moro foi alvo da equipe da ComGás que veio aqui fazer um trabalho emergencial. É, pelo visto, vieram cuidar de um problema e deixaram outro. Se quiserem ver a matéria da reportagem da Veja sobre o assunto, leiam aqui.

Como a multa pelos "estragos" agora é alta, alguém decidiu que realmente o reparo deveria ser feito o quanto antes. E foi. Bom, está sendo. Hoje de manhã fui acordada com o barulho mais uma vez incomôdo (porém necessário?) de caminhões e gente trabalhando na minha rua.

Infelizmente, hoje acordei mal de saúde, pior que nos dias anteriores, a gripe me pegou de jeito. E eu que achava que ia ser mais leve por ter estado doente também quando minha mãe estava aqui, há pouco tempo atrás. Com minha imunidade baixa, aproveitei pra pegar também, mais uma vez, a "bendita" conjutivities! Pelo visto uma vez só não foi o bastante. :(

Como dizem por aí, 'ao mau tempo boa cara'. Fui mesmo assim à padaria, preparei um café da manhã delicioso que curti com um bom amigo em casa e depois fui tentar a sorte no consultório médico aqui perto de casa. Na volta percebi duas coisas:

1. Houve um acidente "feio" na minha rua. Feio pra dona do carro; aparentemente sem vítimas.
2. A rua estava bem zoada. Pior de como estava ontem.

O motivo do primeiro não sei, mas sei que ocorreu às 3 da madruga. Provavelmente alguém que bebeu demais e que talvez por causa dos buracos da rua se deu mal (engraçado que a jornalista da matéria meio que previu isso no artigo acima). A razão do segundo é que estão reparando a minha rua. Sei que eles tem até amanhã às 18hr para fazê-lo.

Conclusão: a rua está pior do que estava, o trânsito piorou, até acidente teve e ainda tem mais barulho por vir. Nada alentador, né?

Pois bem... Isso me fez refletir. Ver a rua assim toda destruída, me fez reparar nos buracos deixados na calçada também por conta do trabalho da companhia de gás. E daí pensei na minha situação. Eu me senti como a rua. Toda furada, toda zoada, depois de tudo que peguei nas últimas semanas eu ainda era como a rua: estava under construction, em reformas.

Foto tirada pela Revista Veja da reportagem acima.


Pode ser a conjunção astrológica: lua cheia, sol entrando no meu signo, etc e tal. Pode ser também, como aqui dizem "inferno astral" ou meramente coisa pessoal, mas o fato de eu estar com tantos chiliques demostra mais uma vez o processo de mudança pela que venho passando. O desejo de cumprir minha missão na terra e o processo de limpeza que isso carrega, limpeza de tudo o que não serve mais, do que me faz mal. Talvez não seja tão ruim ficar doente. Talvez os buracos sejam realmente necessários se no fim tudo for renovado. Se no fim ficar melhor.

Mal posso esperar o final que terá minha rua. Por enquanto is a mess, mas logo mais ficará novinha em folha. Assim espero, assim tem que ser. Não é?

Wednesday, October 20, 2010

Jornalismo, sonho ou realidade?

Ok, confesso que estou há séculos querendo escrever um post legal sobre o que tem sido essa minha volta ao Brasil. Mas com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo até esqueci como ia contar isso sem ser repetitiva.Deu saudades de vir aqui no blog, mas tudo o que consigo pensar é sobre a minha vida profissional. Então vou sair da rotina e falar de algo que realmente não tem muito a ver com o Brasil, os EUA, o Chile ou a América mas que tem tudo a ver comigo, é claro!

Passei um bom tempo tentando decidir se o Jornalismo era ou não pra mim. Já vão 10 anos, até mais, e ainda não sei bem se é. No fundo, no fundo, sei que é tudo que sempre quis fazer. Mas algo me diz que não é bem o caminho. Pelo menos, não ainda, não do jeito pelo qual entendemos hoje jornalismo. Acho que sofro do seguinte: medo de não servir pra algo que amo... e ao mesmo tempo, de confundir o desejo de escrever com o jornalismo.

Vamos por partes. Primeiro, neste post, vou falar sobre o meu medo de não servir para o jornalismo. Não que eu realmente ache que seja o caso, mas me questiono muito sobre o assunto De fato, levo anos me questionando. Tá mais do que na hora de encarar... Na verdade eu fui deixando pra lá a possibilidade de entrar na profissão por dois grandes motivos. Primeiro, pela falta de oportunidade de estudar o que gostava no meu país e, segundo, pela dificuldade com o idioma inglês quando comecei a estudar nos Estados Unidos. Mas e agora, agora qual é a desculpa?

Bom, aparentemente não há mais nenhuma. Quando cheguei ao Brasil, há aproximadamente 4 meses e meio, já vim com um emprego garantido em uma agência de publicidade. Nos três primeiros meses nem parei para respirar. Foram tantas mudanças, tanto trabalho, tantas emoções que fiquei desnorteada. Somente agora pouco que decidi deixar a agência para decidir qual caminho tomar, é que tenho tempo para definir o que quero ou não quero.

Em Nova York, antes de vir para cá, tive a oportunidade de escrever para o jornal da minha universidade. Com a vida super corrida de lá, pude apenas escrever alguns poucos artigos mas que provaram que capacidade eu tenho para escrever. Também fiz dois testes, um para ser jornalista de negócios em um jornal online e o outro para ser uma espécie de jornalista, também de negócios, escrevendo relatórios sobre as notícias para empresas. Os dois testes foram em inglês. Nos dois fui muito bem. Poderia muito bem ter seguido um ou outro caminho sem problema. De fato, quase segui um desses caminhos. Tenho certeza que eles seriam ideiais caso fosse entrar na área. Escrever notícias de negócios em inglês, aparentemente, é bem mais fácil para mim do que escrever um profile (perfil) ou outro artigo em português. A prova disso é que não passei em um outro teste que fiz no Wall Street Journal para trabalhar como tradutora de inglês-português. Depois de 10 anos fora, sem nunca ter feito faculdade aqui e com apenas 2 anos de colegial no Brasil após anos no Chile, não foi nada fácil fazer uma tradução de um texto jornalístico, do nível de um dos jornais mais importantes do mundo na área.

Pois bem, voltei ao Brasil e aqui meu português volta aos poucos a ser o que era. E fica cada dia melhor. Porém, me pergunto, se ainda assim devo seguir em uma área tão concorrida em um mercado tão pequeno. De novo, meus olhos se voltam para o jornalismo em inglês. Mas daí me deparo com o tal problema de onde usar essa habilidade. No Brasil não existem muitos meios de comunicação, muito menos em inglês. A ideia do blog vem a tona uma e outra vez. Mas...

É, como bem diz meu pai, sempre tem que haver o bendito 'mas' na história. Mas acontece que desde que sai do emprego aconteceram tantas coisas que nem sei bem por onde começar. A visita de minha mãe, por exemplo. Sim, ela veio me visitar!! (Veja foto do lindo reencontro logo abaixo) Alem disso o meu trabalho acumulado contribuiu para que não tivesse tempo de pensar... Daí, pensei. Minto. Não pensei não, agi. Na hora que vi que teria tempo para um break para pensar, entre outras coisas na minha carreira, no sonho da minha vida... eu larguei tudo e fui. Assim que todas as responsabilidades foram cumpridas embarquei para o Rio de Janeiro no feriadão para visitar meu "anjo da guarda", meu amigo David, e além dele, o Cristo - lógico.



Eu e mãezinha curtindo uma boa feijoada, com música ao vivo em um restaurante chiquérrimo na Vila Madalena.











Era tudo o que queria... desde que cheguei ao Brasil venho querendo ir à praia. Anelava o calor, o sol, o mar, a areia. E só agora consegui. Nem preciso dizer que chegando lá não fui capaz de pensar em nada. De fato, foi o melhor que pude fazer. Aprendi várias coisas nessa minha breve viagem, um mini-break, à Cidade Maravilhosa, que logo postarei por aqui.

Meu "anjo da guarda", David, e o Cristo. Sou muito abençoada!!


E no fim das contas, o Jornalismo?? Pois é, mal voltei, aliás, mal fui, já tive uma oferta de emprego!!! É um freelance temporário, porém uma oportunidade maravilhosa a qual estarei compartindo aqui mais pra frente. Obviamente voltei e já comecei a trabalhar nisso.

Nessa correria toda nem dá tempo pra pensar muito... O jeito é descobrir na marra se é só sonho ou realidade. Me questiono ainda coisas bobas, acho que o jornalista deve ser assim extrovertido, etc e tal faço uma lista do que eu não sou e acho que assim é um jornalista. No fundo, no fundo, sei que não é bem assim. Que há espaço pra tudo no jornalismo e que tenho muitas coisas a meu favor. Falo bem três idiomas, tenho uma experiência de vida valiosíssima, sou curiosa, trabalhadora, organizada, persistente, etc e tal. Tenho tudo pra dar certo, especialmente em tempos como os nossos onde ser requer mais do que um jornalista. Se requer inovar, usar a rede (online e offline) para crescer. Sei que posso dar muito certo... porém ainda penso, quero dizer, me pergunto quando ainda tenho tempo pra perguntar... será que é sonho ou realidade?

Cada dia me aproximo mais do sonho... tenho certeza disso. A resposta virá com o tempo, se o tempo permitir. rsrs Vou lançar pro universo e esperar um dia obter a resposta. Vou deixar este post com uma canção que me veio à cabeça hoje à noite. Acho que tem tudo a ver com este momento de indecisão em relação à minha carreira. Afinal, estou otimista apesar das circunstâncias, por vezes, nem tão alentadoras. . Estou fazendo tudo o que posso e isso já basta, pelo menos por enquanto.

No fim das contas, nem sempre o sonho é tão lindo quando se torna realidade, então às vezes vale a pena esperar... nem que seja mais um pouco para decidir se o que faço é bom o suficiente, ou não, ou se devo fazer mais para viver o sonho.


OPTIMISTIC

Friday, October 8, 2010

Felicidade tem nome. O seu nome é Brasil

"Se essa rua, se essa rua fosse minha.... eu mandava, eu mandava ladrilhar. Nessa rua, nessa rua tem um bosque.... que se chama, que se chama solidão. Dentro dele, dentro dele mora um anjo. Que roubou, que roubou meu coração"

Lembrei agora pouco dessa linda canção popular.... Ahhh que maravilha é poder finalmente poder ouvir essa música e não sentir tristeza ou melancolia. O único que sinto é felicidade. Feliz estou de estar no meu país. E sim, há razões de sobra para não estar contente ... no lado pessoal e no coletivo, mas não é o que sinto. Porque será?

Buscando no YouTube a melhor versão da cantiga, encontrei essa versão aqui, e para minha surpresa veio com um extra bônus. Vejam:




"Sonho Meu.... Quem não tem sonho? Quem tem sonho, cante.
Vai buscar quem mora longe. Vai mostrar esssa saudade, com a sua liberdade. No meu céu a estrela guia, a madrugada fria só me traz melancolia, sonho meu."

O sonho é aqui, a vida é agora. O sonho buscou, me trouxe de volta. Já não há mais tristeza ou solidão. Só mesmo alegria e felicidade. Só mesmo ela para lutar por dias melhores em um país cheio de desigualdade e hipocrisia mas que não cansa de acreditar e sabe que a vida é bela, e faz dela mais bela por simplesmente ser que é.

Declaro meu amor pelo Brasil mais uma vez. Pelas suas belezas e complexidade, com paixão e devoção posso dizer hoje e sempre BRASIL, EU TE AMO!