Friday, August 27, 2010

Tudo menos a verdade.

Há algum tempo atrás fiquei super angustiada com a história de David Goldman, um pai americano que lutava pelo filho na justiça brasileira. O caso dele longe de ser simples pois envolvia dois países, um deles sem o mínimo de respeito às leis internacionais de proteção à menores (no caso, o Brasil), era marcado com provas de injustiça contra o pai. O pior de tudo, porém, foi descobrir que mesmo após o desfecho "feliz" (afinal, 4 longos anos e meio longe do filho é longe de ser uma situação feliz) a mídia brasileira (grande parte dela, pelo menos) continuava a falar mentiras sobre o caso que gerou tanta polêmica.

Mentiras gritantes, mentiras nojentas. Mentiam do mesmo jeito que faziam há anos atrás (quando eram as únicas e soberanas fontes de informação) mesmo com a poderosa presença da Internet e o ativismo nas redes sociais. Isso me deixou mais do que angustiada, me deu ira, desgosto mesmo, na alma!! Me refiro especificamente à entrevista que David concedeu à imprensa, alguns dias após a chegada dele com o filho aos EUA, e que demonstrou mais uma vez em que nível de ignorância as pessoas no Brasil se encontram se dependerem forem dos meios de comunicação usais para se informar.

É por isso que quando leio notícias e pesquisas que apontam a Dilma disparada na frente na corrida eleitoral ou vejo políticos fazendo propaganda eleitoral disfarçada de mensagem no Twitter, como costuma acontecer com o Serra, ou até mesmo com a Marina, nem me importo em analisar - já sei que aquilo é no mínimo enrolação. O brasileiro típico gosta de saber tudo, tudo, menos a verdade. Ele não sabe, nem quer mais distinguir mentira de verdade. Ele pensa que é, por exemplo, normal a violência no Rio ou em SP ou onde quer que seja pois alega que é simplesmente esporádica. Ele prefere ser indiferente por conveniência às más notícias mas quando estas chegam a ser manchetes de jornal como foi o outro dia a invasão improvisada ao hotel Intercontinental, entram em estado profundo de "denial" - ou seja, nega tudo.

Como eu nem sou do Rio, nem nunca morei lá e como em SP não houve nenhum incidente semelhante recentemente que saiba (a não ser pelos usuais assaltos que ocorrem aqui ou acolá) não entrarei em detalhes sobre a violência. Ao invés disso, falarei sobre de um dos três problemas mais graves que os paulistanos insistem em ignorar: a poluição.

Outro dia, acho que foi no comecinho desta semana, li no jornalzinho de rua o "MTV na Rua", estilo Metro (o mesmo que é famoso em vários países) só que para público jovem, que o Tietê está cada vez melhor. Tanto que até fizeram uma espécie de tour pelo rio esses dias, com direito à música de jazz e convidados. Pra ser justa com a reportagem, devo dizr que alí também diziam que ainda que o nível de poluição tivesse melhorado, levaria vários anos mais para chegar a uma situação ideal. Mas o artigo era no geral otimista demais, dizia que logo mais nosso querido rio viraria um Sena ou outro que também um dia era altamente contaminado. Além disso, o artigo dizia que o maior motivo de contaminação eram os pneus alí jogados e apenas levemente culpava o estado do mesmo ao fato do rio ainda servir de esgoto da cidade.

Tá certo que a situação do Tietê melhorou e muito, mas peraí minha gente... peraeee. "Melhorou" mas está bem longe de ser uma situação normal. Não sei aonde aquele tour com direito a músico de jazz rolou, mas no meu dia-a-dia o cheiro de merda (sim, é de merda mesmo) é intolerável nas cercanias do rio. Como cheiro é algo difícil de provar tirei algumas fotos do lixo do rio.

Fotos tiradas hoje do lixo visto no rio próximo à marginal Pinheiros.
















Então, né... o povo quer ouvir de tudo menos a verdade. Há dias que o cheiro é tão forte que é necessário cobrir o nariz e prender a respiração ao passar perto do rio. É mil vezes pior que qualquer cheiro de banheiro entupido mas mesmo assim não vejo ninguém se indignando como o fazem caso isso aconteça nos seus lugares de trabalho ou sua própria casa. Sinal que as pessoas ou se acostumaram (o que duvido com a postura altamente crítica dos brasileiros em relação à limpeza) ou então não se acostumaram mas são tão indiferentes à merda que preferem fazer de conta que não existe e acreditar em meias verdades como essa da reportagem - afinal, o rio está BEMMM melhor e como não há solução mesmo, né?

É essa postura conformista e de indiferença à realidade que mais me incomoda. E não é que isso não exista por exemplo nos EUA, principalmente nas gerações mais novas e em alguns setores mas isto aqui, o que vejo aqui... isso é simplesmente INACEITÁVEL.

Masss, claro, ninguém quer saber da verdade por aqui, tudo menos ela.

Faz tempo que não escrevia um post e desde que parei (há aprox. um mês?) queria fazer um post sobre a poluição, pois era até então meu maior problema no processo de adaptação à vida no Brasil, em São Paulo. Aos poucos vão aparecendo as questões... mas na verdade o pior de tudo, é sem sombras de dúvidas, não só a poluição, ou o excesso de mentiras, mas a indiferença à verdade. E como disse esta semana no blog da RioGringa, sem a verdade, sem encararmos a realidade, não há como mudar nada. Esse é, afinal de contas, o primeiro passo no tratamento do alcoolismo, por exemplo. E esse também é o primeiro passo no tratamento de nosso país viciado em mentiras, envenenado em sua própria indiferença aos problemas do cotidiano.

Sei que peguei pesado mas se vocês soubessem... a última agora foi a preocupação dos jornais com o ar seco, quando o problema não é bem esse. O problema é a poluição criada em grande parte pelo descaso, por exemplo, com a situação no transporte... o trânsito só tende a piorar e com o aumento do poder aquisitivo, a frota veicular só aumenta... o que me leva a falar sobre o próximo grande problema: o excesso de veículos nas ruas e o trânsito descontrolado na cidade - que ficará para um próximo post.