Saturday, November 8, 2014

Better Days Ahead

Hoje volto a escrever. Volto após longa ausência. Desde a última vez que aqui escrevi, aconteceram muitas coisas que fizeram com que minha vida mudasse. Mais, uma, vez!

Sempre acreditei que a vida nada mais é do que uma série de momentos, experiências apenas minha, sua, de todos nós.. ou algo do estilo. Não importa se as páginas que preenchemos dia após dia, são de drama ou de alegria. Apenas importa que estejam cheias ou vazias de momentos, com tudo ou, paradoxicalmente, nada. Mas que a soma destas lembranças, destes instantes, nos defina. Que traga algo de divino a um segundo que um dia chegará ao fim. Pois da vida não nos restará nada. A morte é sempre o resultado final da vida. É a morte do corpo e tudo o mais que é anexado à ele.

No entanto, podemos viver eternamente na lembrança das pessoas, na arte, e quem sabe até em nossas memórias para outras vidas, se elas realmente existem, coisa que acredito ser verdade mas não posso fazer que não crê, acreditar.  Então, fica a dúvida para os descrentes..

A verdade é que a vida, estas páginas em branco que nos são dadas a cada minuto, vão acontecendo com ou sem a nossa interferência. Acredito que consciente ou não, todos desenhamos cada traço, escrevemos cada letra, da nossa história. Escolhemos os personagens, o ambiente, o tom, absolutamente tudo, mesmo aquilo que jamais poderíamos em sã consciência escolher, como a tragédia, o caos, a dor..

Ano passado, para este data, eu estava sofrendo imensamente. Talvez eu não saiba o que é a dor da perda de um ser querido, da morte física de um familiar, amigo, esposo, filho. Mesmo assim, isto se equipara. Foram dias sombrios. Extremamente escuros. Se hoje escrevo de uma posição muito diferente daquela, foi porque tive que enfrentar cada momento, cada desafio e cada dificuldade da pior maneira possível. Só assim pude, ao fim, lidar com tudo o que há de pior. E pude encontrar a luz que há na escuridão. Pois as trevas não existem. A luz, a vida (a real, não esta física) existe no meio da morte, da dor. E é só lá que podemos encontrar a saída real para nossos problemas.

Sobre a dor do que vivi escreverei mais intensamente em alguma outra ocasião, não por diversão, mas para poder dar vasão ao que há de melhor em mim. Claro, que não quero expor ninguém, principalmente minha familia. Mas acredito que talvez minha história, que na verdade não é só minha, é uma série de momentos, de páginas, experiências que talvez para alguém, um dia, possa servir de guia ou, quem sabe até, inspiração, para coisas melhores.

Vou começar tentanto descrever um pouco do que sentia nesta mesma época, ano passado. Novembro de 2013. Para começar não sabia nem que dia era, nem mês, muito menos ano. É mentira, é claro. Sabia bem, que dia 10 desse mês, por exemplo, era meu aniversário. Mas isso não importava. Nada importava. O único que importava era "o que vai acontecer?" e "o que vou fazer?". Bom, eu sabia o que eu tinha que fazer.

Li outro dia que a felicidade, às vezes, é fazer algo que não nos dá prazer. Ela pode estar escondida em algo que nos faz miseráveis, mas que sabíamos tínhamos que ser feito. E aí, nessa escolha, residia a felicidade. Na missão cumprida. Algo assim aconteceu comigo nessa época. Depois que li esse texto, que de outra forma não faria sentido algum pra mim (e acho que para a maioria das pessoas a não ser que sejam masoquistas), pude compreender claramente o que autora explicava.

Era isso. Eu sabia que abandonar meu apartamento em São Paulo, vender tudo, me mudar ao Rio de Janeiro, uma cidade que tinha razões de sobra para detestar, era a pior escolha possível. Tudo em mim doia. Eu não sou uma pessoa materialista, no sentido mais literal da palavra. As coisas realmente não importam pra mim. Ter a melhor roupa, ou carro, ou acumular coisas, apenas pelo prazer, jamais foi um hobbie meu. Nem títulos, nem marcas.. No entanto, sou a pessoa mais materialista que conheço, no sentido que ter um apego ferrenho a tudo que possuo, seja uma blusa de mil novecentos e bolinha, um texto, um livro, meus aparelhos eletrônicos ultrapassados, um relógio velhíssimo, coisas assim.. não consigo me desfazer mesmo sabendo que eles mereciam estar no lixo.

Demorei cerca de 2 anos para  montar "meu apartamento". Quando digo meu apartamento, a maioria das pessoas pensa "oh, era algo próprio, não alugado". Pois bem meu apartamento era um contrato de 30 meses, com seguro fiança renovável a cada ano (bem carinho, por sinal). Em outras palavras, não, não era meu. Como disse antes, meu materialismo, ou excesso de carinho por ele, me faz chamá-lo assim. Foi muito importante pra mim, apesar de que eu sabia que um dia iria deixá-lo. De fato, quando o aluguei pensei em gastar o "minímo possível" (se isso é possível no Brasil) nele pois sabia que um dia iria embora. Adoro São Paulo, mas jamais pensei morar eternamente aqui. Não fazia parte do meu plano, ainda. E era apenas um aluguel, de 30 meses, então, não, não era meu. E pior, não poderia levar nada comigo tão fácil para a casa dos meus pais. Então tentei não acumular coisas demais. Até pois sabia bem da minha tremenda dificuldade em me desfazer de qualquer coisa.

No primeiro ano apenas tinha uma cama, uma pequena mesa dobrável e o mais básico do básico (fogão, geladeira e máquina de lavar, conquistada por último e após meses de louvável esforço, lavando roupas à mão). Tudo isso foi adquirido à prestações. Aos poucos fui conseguindo mais coisas. Algumas melhores que outras, mas no fim nada muito sofisticado. Porém era minha cara. Eu amava meu espaço apesar da sofrível decoração, o banheiro que nada tinha de aconchegante. Ainda assim, após minha primeira longa viagem fora de casa, ao voltar pra "casa" senti total e completamente acolhida naquele lugar. Senti como se eu pertencesse a algum lugar e aquele lugar era aquele. Eu sabia que era minha prisão também. Aquele lugar me impedia de estar em outras partes, viajar pelo mundo, conhecer minha alma gêmea... De ser melhor.. e de buscar meu sonho. Todas aquelas coisas (mesmo aquelas que havia ganho, como uma estante de livros que amava) tudo, tudo.. era uma forma de me esconder. Mas sentia certa paz. E acredite, quando uma pessoa, que da última vez que contabilizou contou mais de 50 endereços em sua vida (isso mesmo, 50!), diz que sente uma imensa felicidade em ter um lugar para chamar de seu, não mente.

Então, quando me vi na situação de largar tudo, de ter que vender, por falta de alternativa melhor no momento, foi bem traumatizante. Era outra mudança, outra despedida cruel. Apesar dos problemas que esse lar tinha, foi bem sofrido ter que dizer adeus. Diariamente sofria com os barulhos e pó da construção de um prédio bem em frente ao meu e, de verdade, algo em mim se alegrava de terminar assim a relação com ele. Ainda assim, me desfazer de tudo foi extremamente complicado. Mas não pensei duas vezes. Aliás, nem pisquei os olhos. Para mim essa decisão era tão claro quanto o saber que "2 + 2 são 4" ou a nossa necessidade de oxigênio para viver. Era um fato, claro, irrefutável. Eu tinha que ir. Tinha que vender tudo. Tinha que estar onde meu irmão estava. Por mais que doesse, e se eu disser que não doeu, que não me odiei por isso e que não xinguei a deus e o mundo por isso (principalmente meu pai), estaria sendo hipócrita. Mas eu tinha que.. sem argumentos.

Tipo assim, você cortaria seu braço pelo seu irmão? Ou doaria um órgão pra ele? Ou sei lá o que mais?.. Sim, óbvio! claro que não cortei meu braço por ele. Muito menos fiz algo tão louvável como doar um órgão, até porque ele mesmo não precisava. Aliás ele não pediu nada disso. Ele nem precisava de nada disso. Mas eu SABIA, eu só sabia, com a certeza que quem sabe exatamente o que deve ser feito, que deveria estar ao lado dele, naquele momento. Que não poderia prosseguir minha vida, naquele momento, sem estar perto dele. Não poderia viver com isso (deixá-lo sozinho mais uma vez) para o resto dos meus dias. Não era uma opção. Eu simplemente não podia, não poderia. Ninguém me obrigou a sentir a dor que senti. Ninguém. De abandonar "meu ap". Nem eu mesma. Não existia culpa. Apenas tinha que ser. Simples assim.

Demorei 3 fins de semana para desfazer pouco mais de 2 anos da minha vida. Vender tudo. Nem sei como fiz tal coisa. Isso significou 3 viagens de ida e volta ao Rio. Todas elas carregando as coisas que de valor financeiro pouco ou nada retiam. Eu e minhas tralhas (sei que o Rica, do "destralha" vai rir com isso) mas lá fui eu carregando tudo o que mais podia para uma vida completamente sem propósito, sem rumo, sem direção... pois não sabia o que ia ser, ou como ia ser. E tudo o resto, o mais que pude, joguei fora, doei, vendi e abandonei pelo caminho, mais cedo ou mais tarde.

No dia do meu aniversário passei chorando com raiva por ter que me jogar nessa "aventura" sem volta. Não me sentia vítima total (só em parte) da minha situação. Mas como disse, eu tinha que fazer. Não havia dúvidas em mim, nenhuma sequer, se tinha ou não que fazer isso. Aliás, acho que foi a única decisão que tomei na vida com absoluta certeza, que não fazia a menor ideia se a merda estava fazendo era a correta, mas eu sabia que era: tinha que fazer! E fiz.

E foi assim que após esse fim de semana, justamente do meu aniversário, eu fui definitavemente, com o resto das tralhas (e não eram poucas apesar das inúmeras viagens) pro Rio de Janeiro. Dias depois, aliás semanas, lembro-me que acordei em casa e percebi que não tinha ideia que dia era. Claro, algo em mim sabia que já havia passado novembro, e o pior também havia passado, mas eu ainda achava que era setembro, sabe? Lembro-me de ficar buscando a data na minha cabeça, tipo hoje é..  e disse a mim mesma "hoje é 20 ou 25 de setemebro?" foi aí que percebi que o tempo para mim não tinha realmente passado. Aquelas páginas (dias) desde quando soube da notícia do deseparecimento do meu irmão até aquele momento tinham sido escritas, mas eu não processava. Foram  meio que apagadas da minha memória. Era como se nunca tivesse vivido. Ou nunca quisesse viver. Pode parecer tudo muito dramático. E de certa forma é. Não é nada mais dramático ou horripilante do que as tragédia que inúmeras pessoas vivem diariamente. De fato, na verdade não foi tanta coisa que vivi. No fim, meu irmão está bem, vivo, e eu também. Meu pais e irmã também. Sobrevivi. Sobrevivemos. Não passei fome. Não fui estuprada, nem violentada, nem perdi nenhuma parte do corpo. É. Verdade, não foi tão ruim assim. Também não é nenhuma história de conto de fadas a que tenho pra contar. Mas assim como eu várias pessoas, aliás todos nós, sofremos, uns mais outros menos, uns com razão outros nem tanto, nesses momentos (bons ou ruins), nessas páginas em branco, que nos são dados a cada dia com a dávida da vida.

E, assim como eu, aliás todos nós, temos sempre uma opção, a de sofrer, encarar a dor, ou a de sorrir, dar um tapa na cara das circunstâncias da vida, apesar destas serem pouco ideias, e sermos felizes. Com braços ou sem, com um coração partido ou não, com problemas ou sem problemas. A escolha é sempre nossa!!!

Após um período (nada fácil e de muito aprendizado) de aproximadamente 4 meses no Rio de Janeiro, decidi desta vez com muita insegurança e receio, ir embora dessa cidade. Embarquei rumo ao Chile, sem saber quanto tempo ficaria, se era definitivo ou não, nem sabendo o que iria fazer por lá.

No fundo eu sabia, eu precisava me curar, digerir tudo aquilo que vi e vivi, começar algo novo. A ideia (sempre presente em mim) de escrever um livro, parecia-me algo muito mais paupável. Mas eu estava muito frágil ainda, e muito perdida para tal empreendimento. Mas, foi nesse período, que comecei um projeto, o #100betterdays, que coincidentemente, remetem ao título deste blog "Dias Melhores..". Isso mudou mais uma vez minha vida. Mas de maneira que JAMAIS podia esperar. Nem tudo foi better, é claro. Essas mudanças estruturais mexeram demais em muitas áreas de minha vida e uma delas, sem estrutura nenhuma, acabou me derrubando, quase me destruindo. Fui obrigada a confrotar minhas inseguranças em relação ao amor. Não foi fácil, esses "momentos" quase que acabaram com o propósito do projeto. Mas o projeto venceu. Foi muito mais forte, e, muito mais importante do que essas problemas sentimentais. Tanto que, me mudaram pra sempre. Iniciaram um processo sem volta do qual agora faço parte.

É óbvio que, somente quando confrontei o "x" da questão, e quando voltei ao Brasil, é que realmente a ferida no coração começou a cicatrizar. Foi só aí que percebi também o quanto tinha mudado para melhor após esses 100betterdays e quão longe poderia chegar. Também percebi que meus problemas, principalmente minha trava com a escrita, ainda estava longe de ser resolvida. Existia muito medo, existe ainda muitas coisas a serem "reprogramadas". Mesmo assim, posso dizer HOJE que sou uma pessoa muito melhor do que era antes. Que esses 100 dias melhores começaram um processo sem retorno em torno da VERDADEIRA felicidade, do autoconhecimento, da riqueza de espírito.

Sim, existe muito ainda por melhorar. Muita coisa difícil ainda para digerir em mim mesma, na minha vida, na dos outros.. mas mesmo assim eu sei que vai ficar melhor. Vai ser melhor, porque hoje já sou a melhor pessoa que posso ser. Agora é só por tudo isso pra fora. E a mágica, da mudança real, de ver aquela Simone realizada, completamente, irá acontecer. Pois para isso só falta uma coisa: um passo na direção certa. Um passo não dado antes e que poderá, de fato, mudar essa série de momentos de tragédia para comédia, de drama para euforia, de solidão para plenitude.

Meu próximo post falará um pouco mais do que foram esses 100betterdays, do que se tratava o projeto e no que irei transformá-lo a partir do dia 10 de novembro, data do meu nascimento e do nasciemento de uma nova "eu".

Muita luz e paz,
Simone