Monday, April 26, 2010

Novidades...

Bom, faz tempo desde a última vez que postei. Depois de um período de "ups & downs", veio um período de muita dúvida e até mesmo medo, quase paralizante. Graças a Deus, isso não durou muito. Cada dia que passa percebo que este meu caminho de volta é o caminho certo, o meu caminho. Minha vida nunca foi igual à da maioria das pessoas e não era agora que ia ser diferente.

Vamos lá. Vou contando as novidades:

1. Consegui alugar o quarto por alguns dias em maio. Além de me ajudar com o aluguel do apto. e aliviar o estresse - já que minha roommate decidiu sair assim "de repente" - me dá espaço para ajeitar minhas coisas e ficar tranquila. É uma senhora que vem da Califórnia conhecer seu neto recém nascido. O casal é um amor e mora aqui perto. Depois vou postar fotinhos pra vocês verem.

2. Apesar de ainda não decidir a data de saída, está quase claro o destino. Ainda não quero dizer onde com absoluta certeza, pois depende de uma coisa só: de um emprego. Mas está quase certo que é o Brasil. O lado bom disso tudo é que iria voltar para minha pátria amada (uma delas) e já teria algumas chances de começar a trabalhar. O lado menos legal é que não iria ver minha familia, que não vejo há aprox. 10 anos. Mas nisso eu dou um jeito logo logo, com a graça de Deus.

3. Tenho alguns contatos ótimos de trabalho no Brasil. Estou muito feliz com isso e ainda com as dificuldades que se aproximam, me sinto muito animada. Mal posso esperar ter plano de saúde, colegas de trabalho, vale-refeição e transporte além de comer comida mais saúdavel e fazer mais exercício, é claro, não vejo a hora de curtir os feriados... e férias!! rsrs Mas isso ainda está bem longe de se concretizar. hehe

4. Estou vendendo, doando e separando tudo que vou enviar em caixa. Logo mais vem a parte mais díficil que é a separação de minha irmã e tudo mais... Enfim, uma coisa de cada vez. Aliás, esta parte até que estou gostando. Eu sou bem apegada às coisas, já que no passado mudei várias vezes de casa. Tantas vezes e desde que era bem pequena, então me afeta muito ir deixando coisas pra trás... apesar de estar "acostumada". Desta vez, no entanto, está sendo gostoso... estou fazendo a mudança paulatinamente... e não há nada melhor do que dar algo à alguém que você gosta ou que sabe que possa vir a usar. E as poucos vou jogando tudo o que não serve para dar espaço ao novo e maravilhoso que virá na minha vida. É uma ótima experiência.

5. Estou indo bem nas aulas da faculdade. Sábado passado fizemos uma apresentação (um projeto em grupo) na minha aula de cinema e saiu ótima, considerando toda a loucura que foi esses últimos dias. E além do mais, ganhei um A+ no projeto de grupo anterior. Na outra aula de cinema, como desenvolver o documentário, tirei um A também. E agora falta só me concentrar nos dois últimos papers. Um será sobre o filme "City of God" (sim, é o "Cidade de Deus"!!) e o outro sobre meu projeto de documentário. Esse promete ser divertido. Irei postar aqui minhas ideias em breve.... fiquem de olho.

Então, era isso. Tem mais? Sim, tem mais em breve. Pelo visto agora não tem mais volta, e só coisas boas estão e virão. A fase é de Up, Up, Up... pois só o fato que minha vida não esteja mais Up in the Air já é uma grande coisa.Italic

Deixo este post com o trailer do filme "Up in the Air" já que será o motivo de meu próximo post... talking about home, work, travel... and love. ;-)

Tuesday, April 13, 2010

Altos e baixos, ou "ups & downs"

Dizem que a vida tem altos e baixos. Em inglês, há também o equivalente: the ups & downs of life.

Minha vida nos últimos dias tem sido uma sucessão de altos e baixos. Me atreveria até a dizer que minha vida agora sofre de uma espécie de bipolaridade sórdida. É que tem horas que tudo parece dar uma guinada à direita e depois volta-se bruscamente à esquerda. Enfim, assim é a vida, ou não?

Sei que este post vai soar negativo, mas é porque provavelmente ele é. Estou na fase do "down", então aguente ler se for capaz. Após meu último "hope-full" post onde comentava sobre sonhos que se concretizam, das coisas que a gente quer e luta com todo o coração, aconteceram coisas que me abalaram, mesmo sem eu querer. Para me entenderem teriam que conhecer melhor minha história. Sobre decepção trás decepção que sofri e venho sofrendo no mercado de trabalho americano. Mas como bem me lembra uma querida amiga brasileira que mora aqui nos EUA já há alguns anos, isso não é "privilégio" de imigrante. Ela confessa nunca ter sofrido nada parecido. E garanto que não é a única em dizer o mesmo. E olhando pelo ponto de vista dela, dessas pessoas imigrantes legais, porém com 'cartão verde' o famoso green card, é claro que há pouco do que reclamar... Mas só a gente mesmo pra saber onde é que o sapato aperta, não é?

Mas então, deixando tudo isso pra lá... Afinal, minha ideia com o blog não é agradar todo mundo mas dividir minha experiência com aqueles que gostariam de ver o outro lado da vida americana. Além de, é claro, me ajudar a passar por momentos de decisões difíceis, como a que estou prestes a tomar, e documentar minha volta, os preparativos, a saída, a chegada e as mudanças pela que irei, novamente, passar. Bom, deixando as explicações de lado... vou eu escrever sobre o que tenho vivido nos últimos dias apesar de não poder dar muitos detalhes. Não, enquanto haja um laço entre eu e a empresa onde trabalho. O último que aconteceu foi outro "golpe", por assim dizer. Reconheço que minha auto-estima a esta altura do campeonato está bem devastada. O que fazer para retomá-la? Confesso que não sei. Não "posso" pedir as contas. Quer dizer, poder posso, né? Mas quem paga as contas? Sim, sei que não sou a única a passar por isso. Tem gente em toda parte do planeta na mesma situação, parecida ou pior. Ok, OK! Mas eu nunca fui de me acomodar. Apenas espero a hora certa para agir...

Falando nisso lembrei do que ouvi hoje à noite no programa Lost (um dos meus shows favoritos aqui na América): "There is a difference between doing nothing and waiting" - Ou seja, "há uma diferença entre o não fazer nada e o esperar". Acredito nisso. A experiência me diz que às vezes também é mais sábio esperar. Mas o não fazer nada, como o pretexto de esperar, é também considerado sábio? Há ainda uma grande máxima americana, que todos conhecem bem (afinal, é o slogan da empresa americana Nike), o Just do it. E parece-me apropriado nesse momento lembrar-me disso.



Enfim, a saga, ou seja minha história mais recente. A história é que enquanto escrevia o post anterior, ainda haviam chances de continuar na América. E, por fim, poder dizer: "vim, vi e venci". Pois é, hoje estou cheia de clichés. Que dizer, "eu vim, vi e venci" em muitos aspectos mas não no professional. Isso vocês já sabem bem... Então, a saga. Bom, essa parte não deu certo. Minha única opção morreu afogada em plena praia. Eu ia conseguir uma última entrevista de emprego, após mesmo uma outra que fizera recentemente por contato da amiga blogueira, a RioGringa, que já decidira seria a última. Minha irmã que trabalha em uma empresa pequena fora da cidade, me disse que a economia está melhorando... tanto que, de fato, a empresa onde ela trabalha está contratando. Como faltam pessoas capacitadas que queiram fazer a espécie de trabalho que ela faz, naquela área, etc. ela pensou em mim. Teria sido ideal, considerando que essa empresa ajudou minha irmã a conseguir o visto de trabalho e logo o "bendito" greencard. E cá entre nós, não ligo a mínima para o greencard, só o visto já estaria de bom tamanho. Ok, não rolou porque somos irmãs e a empresa tem como regra não contratar familiares. E não teve jeito (apesar da insistência de minha irmã), mesmo quando as vagas não fossem no mesmo lugar onde minha irmã trabalha, etc e tal.

À continuação, toda animada, e já mais segura de mim mesma, comecei a fazer pesquisa sobre a vida no Brasil. Busquei informação sobre o Rio de Janeiro e São Paulo. Também olhei o Chile, já que estarei visitando meus pais. Confesso que desde que soube que queria voltar, e já sabendo que não haveria mias chance, me sentia mais leve ainda. Mesmo sabendo que seria tudo novo, e me depararia ainda com vários obstáculos. No entanto, vendo e vivendo a minha situação atual, me pareceu que seria uma verdadeira liberação. Pena que o entusiasmo não durou. Esse período up (de saber que realmente todas as portas se fechavam aqui e minha saída era iminente) que seguia de um down onde fui lembrada do quanto sou apreciada e bem visto nos olhos de meu chefe, culminou hoje. Eu bem disse, altos e baixos, não disse?

A verdade é que com prazos para cumprir no serviço, fiquei tão atarefada que não pude resolver muitas coisas nos últimos dias. Não pude, por exemplo, até agora renovar o anúncio que fiz no Craigslist para o quarto que pretendo alugar para o próximo mês (já que como contava minha roommate está me deixando no fim de abril), nem muito menos começar a separar as coisas para enviar pro Chile (afinal comprei a caixa já há alguns dias atrás).

Esta semana ainda continua busy, mas decidi dar uma paradinha neste momento, para documentar isto tudo e refletir. Este último período down da minha vida é devido ao que eu chamo de cold feet, ou seja, "estou com pé atrás" sobre a minha decisão de voltar ao Brasil. E devido a que, você se pergunta. Bom, hoje tive uma espécie de entrevista (a qual, de novo, não posso dar muitos detalhes) e me fez pensar que realmente vou ter que começar do ZERO. Vai ser uma transformação radical e levará tempo. Dias melhores virão, mas não serão assim, em alguns quantos meses. Isso eu já sabia, mas mesmo assim... desta vez, em vez de friozinho na barriga, uma adrenalina legal que corre nas veias quando a gente sente quando está prestes a se confrontar com uma grande aventura, se transformou em algo, assim digamos, não muito agradável. Senti medo... mas não o do tipo que é natural nestas situações. Senti algo que até agora não tinha sentido. E pensei algo que até agora não tinha pensado: E se não der certo?

O que senti foi uma sensação de perda, de fracasso. Sei bem que sem fracasso não há vitórias. Aprendi a gostar das perdas e a aceitar o que vier, mas não foi isso o que senti, senti... MEDO DE NUNCA CHEGAR LÁ. Onde é esse lá? Lá, onde quero chegar. Tenho medo de me desviar do caminho que me levará à satisfação pessoal por dinheiro, por excesso ou falta, ou simplesmente, por falta de coragem. Estou em um momento onde decisões devem ser tomadas. Já não posso, simplesmente, seguir esperando. O tempo não para, e já não sou mais tão jovem quanto pareça ser, eu não posso continuar esperando por coisas que são tão pouco provaveis de acontecer. Ao mesmo tempo, me pergunto e se espero um pouco mais... ?

Não é fácil decidir. Uma coisa que aprendi a admirar dos americanos é a mentalidade just do it e a yes you can. Desde pequenos aprendem isto. Eu sei que posso, mas quando a gente está razoavelmente bem, vivendo em uma situação aparentemente confortável, o mudar tudo, começar do nada, o faça-o somente, se torna mais bem um emblema daqueles poucos que são corajosos demais para ousar continuar sonhando, continuar nadando mesmo quando a praia e os objetivos estão a milhares e milhares de quilomêtros daqui.

Amanhã será um outro dia. Um outro up há de vir. Por isso, vou dormir sorrindo, sabendo que isso faz parte da vida, da minha vida, da de todos nós. Dias melhores virão, sem sombra de dúvidas.

Thursday, April 8, 2010

Dreams..."Sonhos que você anseia com todo o coração"

Últimamente, tenho ouvindo canções no meu ITunes que há anos não ouço. Então, enquanto ouvia o album da Gloria Steffan, que aliás foi um "presente" de uma aluna de português, uma americana que estava se desfazendo de coisas antigas (risos) - confesso que não sou muito fã dessa cantora - estava terminando de completar uma prova para minha faculdade.

Justo no momento que tocava "Reach" escrevia um esboço sobre um projeto, que me daria pontos extras na prova. O meu projeto se trata de falar sobre a vida dos imigrantes na América, pessoas que assim como eu vieram atrás de um sonho...

Como a vida imigrante é um assunto complexo, decidi me concentrar no Dream Act, que é uma proposta de lei que legalizaria a situação de jovens ilegais aqui. É por isso que recentemente voltei à Washington, estive lá passeando em 2001, e daí a explicação da foto ao lado sobre a minha visita.

Letra da música Reach em inglês. Para uma versão (não muito boa, mas decente) em português clique aqui:

Reach
"Some dreams live on in time, forever
Those dreams, you want with all your heart
And I'll do whatever it takes
Follow through with the promise I made
Put it all on the line
What I hoped for at last would be mine

If I could reach, higher
Just for one moment touch the sky
From that one moment in my life
I'm gonna be stronger
Know that I've tried my very best
Put my spirit to the test
If I could reach

Some days are meant to be remembered
Those days we rise above the stars
So I'll go the distance this time
Seeing more the higher I climb
That the more I believe
All the more that this dream will be mine...




...If I could reach, higher
Just for one moment touch the sky
From that one moment in my life
I'm gonna be stronger
Know that I've tried my very best
I'd put my spirit to the test
If I could reach

If I could reach, higher
Just for one moment touch the sky
From that one moment in my life
I'm gonna be stronger
I'm gonna be so much stronger yes I am
I've tried my very best
I'd put my spirit to the test

If I could reach
If I could, If I could
If I could reach
Reach, I'd reach, I'd reach
I'd reach', I'd reach so much higher
Be stronger, higher, higher"

Sim, uma música e tanto. Fala sobre sonhos, sobre a coragem para vencer os obstáculos e o não desisitir. Ser forte e seguir sempre tendo com alvo "higher".

O sonho americano, para muitos no Brasil é o ter uma casa própria, para os americanos uma mansão ou duas. No Brasil um carro, aqui um pra cada membro da familia. E por aí vai. O colapso do mercado financeiro mudou um pouco a maneira de ver as coisas. Mas o consumismo continua. Para muitos, no entanto, aqui na terra do tio Sam, ou no Brasil, terras tupiniquins, o sonho é simplesmente um: poder alçar vôo.

Hoje em dia a educação, uma boa educação, é fundamental. Aqui nos EUA assim como no Brasil ela tem um preço, e infelizmente, não é barato. Conhecimento, que deveria ser um direito do ser humano, virou mais um bem de consumo. Hoje em dia, é um sonho. Triste, porém certo, hoje em dia mesmo com conhecimento e experiência, você só chega a certos lugares se tiver vários requisitos. O famoso QI brasileiro (quem indique) e o manejo em línguas estrangeiras, além de um diploma em faculdades de nome, de preferência no exterior, abre portas.

No post anterior falei da minha principal frustração aqui. O fato que minha educação e conhecimento não valham muito por ser graduada de uma faculdade pública ou de não ter uma educação ainda maior (como o que seria um Mestrado, Master Degree) ou simplesmente por causa que as empresas grandes obedeçam certas regras internas, que considero simplesmente discriminatórias, ou seja, preconceituosas, não é nada comparado ao que jovens praticamente americanos (já que vivem aqui desde que se conhecem por gente) tem que viver aqui ao sair do colegial. Os sonhos deles são aniquilados simplesmente por culpa de um governo, um sistema, que há anos vem sendo indiferente a um problema que deveria ter sido resolvido já há muito tempo.

Meu sonho, o sonho desses jovens, era e é somente esse: estudar. Eu consegui o meu, outros não conseguirão ou como eu não terão a chance de obter um trabalho que faça mérito ao seu conhecimento e habilidades, simplesmente porque não possuem um pedaço de papel. Acredito que a grande luta por direitos humanos desta década nos EUA é essa: não pode-se falar em dias melhores enquanto continuem existir aberrações como essa, onde filhos de imigrantes, o futuro da nação e do mundo venha a pagar pela culpa de um sistema inútil e mesquinho.

Eu sou apenas estrangeira, imigrante. Meu sonho eu continuo até acalçá-lo, sempre focando mais alto, pois sonhos não existem por acaso. Eles existem para se concretizar. Aqui, no Brasil, no Chile ou onde quer que seja, eu vou vencer. Mas estes jovens... que sonhos eles terão, se não houver uma lei, algo que os proteja? Eu não sei, mas eu só sei que as pessoas deveriam parar para pensar nisso. Tenho certeza absoluta que estes individuos de grande força, coragem, iniciativa e talento retribuirão ao seu país com os braços abertos. Todos tem a ganhar com isso.

Tuesday, April 6, 2010

A Vida nos Estados Unidos da América - Part III

Como começar? Escrever este post não será fácil, mas como tudo na vida que vale a pena, é necessário. Além do mais disse que iria dar os dois lados da moeda. E promessa é dívida.

Como é díficil falar isso, achei este vídeo que resume bem a minha situação. É de um filme que simboliza minha maior frustração neste país. O filme se chama "The Pursuit of Happiness" ou "À Procura da Felicidade", como diz o título em português. O filme, pra quem não assistiu, se trata da história real de um homem americano negro nos anos 60 que teve que encarar alguns obstáculos mas que no fim venceu. Esta cena do filme pra mim é tudo. A história pode até parecer simples demais (ele apenas conseguiu um emprego) mas não é. Ao passar no processo seletivo, essa oportunidade que lhe concederam, mudou pra sempre a sua vida.

Assitam a esta cena, a última do filme, e pensem em mim, e também pensem na história de milhares de imigrantes que com inteligência, dedicação, sacríficio e muita coragem, assim como ele, não terão a oportunidade de ter um final feliz.



Na parte em que Will Smith, o ator que interpreta o americano Chris Gardner, está na sala e lhe perguntam se ele aceitaria o trabalho, você sente a emoção do ator. Não é necessário assistir o filme pra entender, muito menos é necessário entender inglês, é tão clara a sensação de vitória e felicidade dele. Nessa hora, o futuro chefe lhe diz "Was it as easy as it looked?" ou seja, lhe pergunta se fora tão fácil como aparentava ser (se refere ao estágio), ao que ele responde, "No. No, Sr. it wasn't" Mas é óbvio que não foi assim tão simples. Se tão só, seu chefe soubesse o duro que foi chegar lá....

Pois bem, essa parte da sua vida, segundo o filme, se chama felicidade. E essa parta da minha vida, essa 'pequena parte' da minha vida, é que ficou incompleta. Tive a mesma experiência desse homem. Bom, não exatamente a mesma, mas parecida. Consegui chegar lá, a sensação de felicidade que ele teve, eu tive. Pode-se dizer que vivi o que ele viveu no fim do filme. Mas infelizmente no meu filme, na minha vida, a história não acabou alí. Ela continuou e esse foi o problema.

O despertar foi cruel. Perder um emprego daqueles foi uma das coisas mais dificéis que vivi na vida, com certeza foi a pior coisa que enfrentei aqui. Fora um emprego apenas, mas que me daria a chance, a oportunidade pra tanta coisa. Vocês imaginam o que é passar por tudo isso, vencer e depois perder tudo. E porque? Por ser estrangeira, simplesmente por isso.

Vejo engenheiros, doutores, gente inteligentíssima que vem pra este país, esta cidade, de todas as partes do planeta, de países, por vezes, piores que o nosso, e eles tem que fazer trabalhos que nem sempre correspondem à suas capacidades: trocando fraldar, dirigindo taxis, etc. Vivemos sonhando, em busca da bendita felicidade mas ela não vêm ou se vêm não é verdadeira.

A realidade, no entanto, é dura pra todos. Nesses dias de recessão, e nessa vida moderna que vivemos, não existe mais estabilidade na vida, nem mesmo para os americanos. Sei bem disso. Mas o que eu vivi, o que ainda vivo, só alguém que está na minha pele pode entender. O preconceito, a falta de respeito, por falta de um simples papel, um documento, que não quer dizer nada, mas que, no fim das contas, diz tudo, é deprimente.

Se tivesse que escolher o motivo principal da minha insatisfação neste país, escolheria de longe esse. Não acho que seja certo viver assim, todos somos seres humanos e não merecemos ser tratados dessa forma. Eu não preciso de ninguém me dizendo o que posso ou não fazer, por me considerarem inferior. Eu sou estrangeira, mas não tenho menos direito a ser feliz do que você.

Encerro com um recadinho do próprio filme, bem antes do final feliz. Alí o pai dá um conselho ao filho ao dar-se conta que estava podando ele ao dizer o que podia ou não fazer na vida. Ele diz:

"Ei, nunca deixe que ninguém te fale o que você não pode fazer, nem mesmo eu. tá? Se você tem um sonho, tem que protegê-lo. As pessoas não conseguem fazer as coisas por elas mesmas e querem te dizer que você também não pode. Se você tem um sonho, lute por ele. Ponto final! "


Monday, April 5, 2010

A Vida nos Estados Unidos da América - Part II

As pessoas costumam brincar, "tenho boas e más notícias, qual você quer primeiro?" Algumas vão com as más primeiro, e outras com as boas.

No último post tentei contar minha vida aqui em termos de status imigratório. Mencionei que o pior momento que vivi aqui foi na época após minha primeira graduação, no meu primeiro período de OPT, onde, supostamente, poderia trabalhar legalmente sem maiores restrições. Mas isto implica falar sobre um tema delicado, então vou dar um tempo e depois postar sobre isso.

Por isso, ao contrário do esperado, decidi começar falando dos momentos bons que tive por aqui. Que afinal de contas, foram vários. Nota: não são lá grandes coisas se comparados com as coisas boas que há no Brasil, mas são coisas boas de qualquer maneira então já está valendo, né?

Por onde começar.... Bom, amor, por exemplo aqui eu já encontrei várias vezes. Pode-se dizer que não há nada melhor que namorar em Nova York, principalmente na primavera ou inverno. Uma delicia. Dou alguns exemplos, ir ao Lincoln Center ver um espetáculo lindo com um italiano que te chama de "principessa" ou dar uma voltinha pelo Central Park com um americano que te trata como uma dama, ou ver filminho na casa do namorado em pleno dia de neve, não tem preço. Nem tem preço, quase mudar de religião (detalhe: não sou religiosa) ou de país por causa de um amor. Ainda bem que não fiz nem um nem o outro, mas vivi isso.

Ok, então namorar aqui é uma coisa boa. Essa é a primeira coisa boa.

A segunda? A mudança de estação. Principalmente na primavera e o outono, que são lindos demais. O verão é ótimo também. E a neve em dezembro, bom ela é sempre bem-vinda e maravilhosa. Pena que fica voltando em janeiro, fevereiro, março, urghhh e não vai sozinha né, o frio vêm com ela e não deixa a gente muito feliz.

Quer mais? Pra encerrar acho que o melhor mesmo é ter morado em Nova York. Muita cultura, nas ruas, nos teatros, em qualquer lugar. Até no hospital, na escola ou nos banheiros públicos a gente vê a diversidade. O melhor de Nova York é esse experiência cultural, as pessoas de todas as partes do mundo, falando e vivendo mil e uma línguas e crenças diferentes. Uma maravilha.

Ok, sinceramente. Há outras coisas menos ambiguas (sim, pois o de cima também pode ser um pain in the neck, uma chatice)que são boas por aqui. Por exemplo, segurança. Sim, essa é uma coisa que é extremamente boa por aqui. Se você morar perto de Manhattan quase não há problemas. Nada como no Brasil. Disso sim foi sentir muita falta. Claro, que há de se considerar os malucos esporádicos que dão chutes ou facadas nas pessoas do nada no subway, o metrô americano. Claro que, você tem que ter muito má sorte pra sofrer desse tipo de "atentado".

Independência e "liberdade". Apesar de não ter carro e não precisar de carro pra nada morando onde moro, confesso que me sou muito independente aqui. Faço o que bem entender e se quiser sair não dependo de nada ou ninguém, só pego o metrô e pronto em um pulinho (com sorte) eu chego lá, em qualquer lugar da cidade. A liberdade vem com a capacidade de me auto-sustentar e estar longe da familia. Sim, sei que é um paradoxo (pois sinto muito a falta da familia, dos meus pais) mas sou dona do meu nariz desde os 12 anos, quando morei pela primeira vez "sozinha" então sentirei a falta dessa minha "liberdade", que aliás, vai de mão dada com o fato de poder chegar tarde em casa sozinha sem ficar com medo de ser assaltada a cada esquina.

Também há a questão do poder aquisitivo, apesar de não ganhar muito posso com meu salário pago minhas contas e faço coisas que na época que morava no Brasil não podia (como sair pra jantar em lugar bacana, ir ao teatro ou pegar mais de um cineminha por mês - coisa que, aliás, eu adoro fazer). Pode-se também comprar coisas aqui fácilmente (no cartão, que aliás agora também é comum no Brasil ou Chile) mas aqui nem falar sobre os preços das coisas, especialmente de aparelhos eletrônicos, que geralmente são baratíssimos. A educação, por exemplo, também foi muito mais acessível aqui pra mim que no Brasil (leia meu post anterior sobre isso). Estou comparando, é claro, com a minha vida em 1999, um ano antes de vir para cá. E no que se refere ao trabalho, sempre pude fazer algo e me virar para ganhar um dinheirinho mesmo sem renda fixa, sempre com coisas bacanas e honestas.

Acho que esses últimos motivos realmente são em grande parte uns dois maiores motivos de ter ficado por aqui todos estes anos. Afinal, este país me deu a oportunidade de estudar e trabalhar, mesmo que sendo muitas vezes nos termos dele, às vezes, com muita injustiça e jogo sujo. Ainda assim, por exemplo, encontrei aqui pessoas maravilhosas, verdadeiros anjos no meu caminho. Minha primeira faculdade, por exemplo, não tinha obrigação nenhuma em me ajudar e, no entanto, me ofereceu não só uma bolsa, como duas!! E por aí, vai. Devo em grande parte o sucesso dos meus estudos ao meu trabalho como instrutora de idiomas, e aos meus alunos, amigos e grande professores, que de uma forma ou de outra contribuiram em grande parte à minha felicidade nesses anos todos. Sem eles, tudo isto teria sido impossível.

E, finalmente, sou muito grata em ter conhecido pessoas maravilhosas, como minha amiga do Peru cuja jornada na América temos compartido nos últimos anos. Amigos brasileiros que de uma forma ou de outra me deram um mão e foram minha familia todos estes anos. E, claro, não podia faltar meu grande amigo americano que me ajudou a concretizar meu sonho, o David, figuraça que já alguns anos mora no Rio de Janeiro.

Agradeço até a quem me fez sofrer algum dia. Acredito que mesmo as experiências ruins foram em verdade, boas. Por isso, vejo como bom o fato de ter conhecido certas pessoas e passado por certas experiências, dentre elas, minha desilusão amorosa, o ataque às torres gêmeas, conflitos familiares, minha frustração com o trabalho e, principalmente, a dor da separação e descriminação vividas aqui no dia a dia, somados à minha falta de liberdade, liberdade para poder entrar ou sair do país.

No fim das contas, a vida aqui pode ser muito boa ou muito ruim, assim como no Brasil e confesso que, pelo menos comparada à vida que levava em São Paulo antes de vir pra cá, a vida tem sido relativamente boa. Mas o preço para essa vida "tranquila" é a má notícia. Oh well, eu nunca disse que a vida aqui era perfeita, disse? (risos)

Deixo com vocês essa música que simplica bem minha vida aqui em Nova York. "I'm alien, I am legal alien... I am 'Englishman' - in this case a 'Braziliangirl' - in New York."



" If, 'Manners maketh man' as someone said
Then he's the hero of the day
It takes a man to suffer ignorance and smile
Be yourself no matter what they say "

A Vida nos Estados Unidos da América - Part I

Pois bem, disse que iria falar sobre o porquê não posso ir e vir deste país. Afinal, não estou aqui ilegalmente. Ou seja, se saio supostamente poderia voltar. Sim, na teoria. Acontece que a vida de imigrantes aqui nos Estados Unidos não é assim tão simples, pelo menos não para os que, como eu, vieram pra cá por conta própria, que não contam com recursos de pais e mães ou tios e tias ou qualquer que seja a fonte de renda para poder se manter no país.

Este post é dedicado à Miriam Carol que me escreveu recentemente perguntando sobre como é a vida aqui nos EUA. Ela pensa em vir pra ficar. Antes de mais nada, me desculpe Carol, não tenho tido tempo pra muita coisa últimamente. Ainda mais quando soube que minhas opções de ficar aqui se acabam. Mas espero que este e os próximos posts te sejam úteis.

Bom, a vida aqui na América, não é diferente do que a vida em qualquer outro lugar no mundo. Claro que varia de estado pra estado, e obviamente será bem diferente que a tua vida do Brasil - ou do Chile, do Japão, etc. ou de onde quer que seja que você venha. Mas não é muito mais diferente do que você imagina, você terá "sorte" ou "má sorte", você terá mais chances ou menos oportunidade tanto faz se for aqui, no Brasil ou na China. Não há nem menor, nem maior chance de sucesso. Tudo depende de você. Os problemas que você carrega ou crêe possuir no Brasil, continuarão aqui. Aqui não é um lugar mágico que faz com que tudo seja de repente maravilhoso.

Com isto dito, posso falar de algumas diferenças. Que aliás, são uma coisa que realmente é bem pessoal. Eu tendo já vivido em outro país, antes de vir morar aqui, já passei por experiências que me fizeram entender melhor o que é morar fora da pátria. Eu morei no Chile por cerca de 5 anos quando ainda era adolescente. Bom, se você vêm aqui pra morar e é a primeira vez que sai do país, será um coisa. Se você já veio de visita (uma vez ou várias vezes) e acha que sabe como é, terá outra experiência. De todas formas, qualquer que seja tua experiência, nada quer dizer que ela será similar à minha. Mas sei que a curiosidade mata e que algo a gente pode sempre aprender com outros, então aqui vai a Part I da minha vida nos EUA.

Primeiro, vou falar da questão do visto. Afinal, você tem que entrar no país de alguma forma. Ou entra legalmente por avião ou ilegalmente (atravessa a fronteira pelo México ou sei lá como). Dependendo do visto que você vier, chegando aqui terá algumas opções, ou nenhuma. Sei lá. Também depende do teu poder aquisitivo e tua condição no país. Se vieres com teu marido ou esposa, por exemplo, tua experiência poderá ser muito mais amena (ou não) dependendo o tanto que conheceres a pessoa com que te casaste. Enfim, coisas da vida.

Vou falar da minha entrada aqui. E isso explica bem a minha situação atual e a que vinha vivendo nos últimos 2 a 3 anos, ou mais que aqui estou. Eu vim pra cá como turista. Na verdade eu vim para um programa de intercâmbio, quando ainda trabalhava na Varig Rio-Sul, que hoje acredito nem exista mais. Neste programa iria aprender inglês morando em uma casa de familia e teria que cuidar de um bebê por poucas horas em troca de um pequeno "salário" e aulas de inglês. Como era mais fácil tirar o visto de turista, o que foi por alguma razão, extremamente simples, decidi vir aqui com ele e tentar ficar por uns 3 a 6 meses. O acordo com a familia se supõe que era de 1 ano, mas como não vim por agência mais indicação de uma amiga que estava aqui, e que sim pagou agência, eu vim e daí decidi fazer como ela, fazer uma extensão da estadia como turista por conta própria. Ao fim dos 9 meses e 1/2 e com muitas experiências pra contar, principalmente já tendo um inglês bom, decidi voltar no inverno e vir pra cá novamente no ano seguinte. Como não pude ir à escola enquanto morava aqui e julgava que meu inglês escrito era pior que o meu falado, quis vir por mais pelo menos 6 meses. Então, voltei ao Brasil, tudo isso aconteceu no ano 2000, e resolvi tudo o que tinha por resolver, peguei meu diploma de colegial, fui resolver uma disputa que tinha com a Varig - um pagamento que não recebera - daí fui para o Chile ver minha familia por última vez. Sonhava em vir e ficar um tempo curto mas não saia de cogitação ficar mais tempo se é que conseguisse um bom trabalho e pudesse juntar dinheiro suficiente para poder estudar no Brasil, fazer faculdade ou talvez me tornar uma piloto que na época eram meus dois grandes sonhos.

Voltei pra cá em 2001, em abril. Estou aqui desde então. O que aconteceu? Bom, a vida. A vida aconteceu. Conheci um homem americano, me apaixonei, decidi ao em vez de estender meu visto de turista trocar para estudante. Como acabara decidindo por fazer faculdade ao em vez de seguir o curso que havia visto de aviação que me daria carreira de instrutora de vôo, fiz toda a papelada para ficar aqui legalmente como tal. Tudo isso 1 mês antes do 11 de setembro.

A partir daí, tudo mudou. Não se podia entrar ou sair do país - literalmente. A papelada ficou congelada por mais de um ano. Sem saber se sair ou ficar ao passar o tempo, fui ficando. Minha relação acabou e minha irmã acabou vindo no ano seguinte para me ajudar. Essa foi a primeira vez que fui ficando "up in the air", assim sem saber o que seria da minha vida. Bom, daí coisas boas, muito boas, e ruins aconteceram. O pior que foi o broken heart e o atentado terrorista, e consequente recessão, já tinham mais ou menos passado. Finalmente me concederam o status de estudante e assim, com um inglês falado já muito bom, comecei a estudar no fim de 2002 em uma escola de idiomas. Alí conheci muitas histórias, fiz muitas amizades, com brasileiros, principalmente, que conheço até hoje. Alguns vieram com visto de estudantes, outras como eu vieram como turistas e aqui trocaram.

Enfim, apenas haviam passado 2 anos e eu acostumada com estar longe da familia, graças a minha experiência anterior de morar no Chile, e já forte com as próprias experiências da vida, decidi que iria tentar pelo menos um curso de formação acadêmica aqui. Minha irmã estava aqui e apesar de nosso relacionamente ser díficil (sempre foi) de certa forma nos apoiávamos. Decidi tentar um curso que aqui se chama A.A. ou Associate Degree. Que são de dois anos, aproximadamente. Na época, saíamos da recessão e recém descubrira meu talento para dar aula de idiomas. Eu fazia de tudo, era hostess (anfitriã em restaurantes chiques), babá de gente rica (morei um tempo em Washington Park) e dava aulas para estrangeiros buscando aprender português ou espanhol.

Como vi que o valor desse curso era acessível, oferecido em uma Universidade pública, aqui em Nova York do CUNY, City University of New York, chamada Community College e que me ajudaria muito com meu inglês, era de Writing and Literature, decidi fazê-lo. Afinal, não era extraordianariamente caro, apesar de ser bem mais caro para estudantes internacionais como eu. E como não queria ficar aqui ilegalmente, então pensei que seria uma ótima ideia.

Aqui nesse momento acredito que o melhor teria sido voltar e tirar o visto de estudante. Talvez tivesse sido um erro, mas dei ouvido à escola onde iria estudar e fiquei com medo de viajar. Afinal, aqui só tinha status de estudante e se saísse do país teria que entrar com toda a papelada no consulado novamente e ser questionada. Como não possuia mais dinheiro do que o suficiente para 1 ano e meio acadêmico e a pessoa que me ajudara com os papéis para o processo, como sponsor (uma espécie de fiador), já era um americano aposentado, decidi ficar aqui. As chances de conseguir tirar o visto de estudante fora do país (no Chile ou Brasil) eram mínimas e baseado em experiências de várias amigas e colegas de curso na escola de idiomas, ter um visto de estudante, tampouco era garantia de voltar ao país. Uma amiga, inclusive, ao ir ao Brasil de férias, não conseguiu mais entrar no país, simplesmente por implicância do sistema de imigração americano que achava que ela já aprendera o suficiente inglês e não tinha motivo pra voltar (isso sem considerar que ela era jornalista e precisava ainda aperfeiçoar seu inglês). Há de se lembrar que estávamos vivemos em plena era Bush e post 11 de setembro e tudo era ainda muito confuso e mudando constantemente. Havia muita desconfiança, o terror e o medo eram espalhados pela mídia constantemente, já que tentavam vender 'The War on Terror', ou seja, a guerra ao terrorismo.

Enfim o que está feito, feito está. Mas por nada deste mundo aconselho ninguém a fazer o que fiz. Talvez dada a oportunidade de fazer tudo de novo, essa parte da minha vida teria feito diferente, por uma série de razões. Mas, assim foi e assim tinha que ser.

A coisa é que no meu primeiro semestre na faculdade, perdi o emprego que tinha, assim de repente, e para variar o custo da faculdade aumentou muito para estudantes regulares e pra mim, como estudante estrangeira, aumentou ainda mais. Ou seja, já o meu dinheiro não daria sequer para estudar aqui 1 ano. Agradeço muito a Deus as oportunidades que foram surgindo na época e desde então. Realmente não sei o que teria feito sem sua ajuda.

Demorei aproximadamente 3 anos para concluir o curso. Isso porque decidi não estudar no verão para poder trabalhar. Trabalhava na universidade, 2 empregos, fazia trabalho voluntário (como peer-mentor), e tinha mais dois trabalhos fora da faculdade. De alguma forma ou de outra dei conta e com ótimas notas. Quase tive que deixar a universidade por causa da falta de recursos, mas tenho muito a agradecer, pois a universidade me ofereceu a chance de ganhar uma bolsa, e a ganhei o que me ajudou tremendamente, ainda ganhei uma segunda bolsa (de menor valor) no último ano e sai bem da faculdade. Bom daí, já foram 5 anos da minha vida.

Aqui nos EUA, se você está como estudante internacional, quando se completa o curso, você pode tirar um ano, que eles chamam de OPT (Ou-Pi-Ti não é Tchi é Ti, tá?) que significa Optional Practical Training, para trabalhar, que você pode fazer se é relacionado ao curso que estudou. Inclusive, enquanto se estuda, e dependendo das regras da faculdade que estudar, pode-se também tirar o CPT, ou Curriculum Practical Training. Que foi o que fiz quando decidi continuar meus estudos.

Bom, depois de tudo isso decidi aproveitar meu ano de OPT e ver se conseguia trabalho e com sorte, sim com sorte, ver se conseguia um trabalho que me contratara e me ajudara a trocar para o visto de trabalho. Essa parte da minha vida aqui foi a mais difícil que já vivi. Daria motivo para um post ou dois, talvez o próximo será sobre o assunto.

Completei o OPT em 2006 e decidi voltar a estudar, terminar meu B.A., Bachelor Degree, em 2007. Daí, foram-se mais 2 anos e meio, e aqui estamos minha gente. Já 9 anos no país, 10 anos no total. E o motivo de não entrar e sair vocês já sabem... se minha familia fosse rica seria menos humilhante ir ao consulado e conseguir o visto de estudante, mas como não são, tudo fica mais complicado. Tudo o que consegui, consegui por mim mesma, digamos assim. Então, se tivesse que dar meu recado aos desavisados é que pensem muito bem em vir e morar ilegalmente (ou legalmente, se possui poucos recursos) neste país. Se o fizer, pensem bem pois 1 ano, transforma-se rápido em 2 e 3. E depois de 3, você já acostumou e não quer voltar. E depois de 4 ou 5, você já está louco de saudade (experiência de quem já morou fora antes de vir pra cá e que teve experiências longe da familia e amigos há anos), o famoso 'síndrome de imigrante'.

Por isso, se quiser vir ficar ilegal uns 2 anos ou 3, pra juntar dinheiro e ver se consegue sorte por aqui (sorte, se referindo em casar com alguém bacana ou fazer algo que gosta que talvez te dê um visto - ou fama, ou dinheiro) deve ser do tipo de pessoa que é super disciplinada. Brasileiro geralmente não é. Não pode ser uma pessoa fraca de pensamento. Tem que ter coragem, que confesso, não tenho. Eu não consegui ficar aqui ilegalmente em parte porque acreditava no sistema imigratório deste país, que apesar de falho e dar muito a desejar ao de outros países, como o do Canadá, por exemplo, acreditava que pudesse servir pra alguma coisa, e também porque acredito que fazer a coisa certa (ou o mais certo possível) sempre paga no final.

Caros amigos, não é bem assim. Essa conclusão eu tirei já faz tempo. E difícilmente mudo de opinião. Se tivesse que aconselhar alguém que, como eu, vem aqui com sonhos de estudar e ter uma carreira, eu diria melhor vem, fica ilegal e depois volta. Mas saiba que o que irá se encontrar não é pra qualquer um. Aqui, se você fica doente, não há quem te ajude, os próprios brasileiros passam a perna em você, amizades verdadeiras são díficies de fazer e se você sentir saudades, ou acontecer uma tragédia, não dá pra sair e voltar pra cá. Ter ficado legal aqui pra mim, não fez nenhuma diferença. Isso é fato. Não sei como será nos próximos anos, mas o futuro não se vê lá muito promissor para os imigrantes neste país. Não enquanto não houver uma reforma, reforma mesmo. Sinceramente, só perdi e continuo perdendo oportunidades por fazer a "coisa certa". Talvez puesse ter dado certo, como já deu no caso de minha irmã ou uma amiga que seguindo meu conselho decidiu fazer um curso de certificado que após 9 meses lhe deu OPT, e com ele (ela que já tinha um curso de BA no Brasil) conseguiu um emprego. Claro que trabalha pra caramba e ganha mal... mas pelo menos ela sai e entra do país quando quiser.

Como disse, a sorte e a vida não são diferentes por estar aqui. Ou seja, você pode encontrar o príncipe encantado ou seu sapo se transformar em um monstro. Você pode fazer muito dinheiro ou perdê-lo, você pode ter um bom dinheiro e viver amargado, ou você pode fazer o que fiz, escolher o caminho mais árduo e ser feliz com o que a vida lhe der, com o pouco ou muito que irá receber pelas escolhas que fez.

Pra chegar onde estou, que não é lá grande coisa (materialmente falando) sofri muito, mas muito mesmo. Mas não me arrependo de nada. Talvez faria uma coisa ou outra diferente, dada a oportunidade, mas não deixaria de fazer o que fiz. Mas se quer meu conselho, e isso vai pra vida em geral: viva a vida intensamente, como se não houvesse amanhã. Viva acreditando em dias melhores, mas preparado para enfrentar o pior. E seja feliz com o que a vida te der, sem se conformar. Aprender a aceitar o que der e vier e ser agradecido pelo que se tem, é uma das mais valiosas lições que já aprendi na vida. Aprendi elas aqui, mas servem pra qualquer lugar.

Friday, April 2, 2010

Algumas verdades no dia da mentira: O Tempo Não Para

Parece coisa de dia da mentira... Minha roommate querida, a garota que divide o apartamento aqui comigo, enviou um email no dia da mentira dizendo que ia se mudar no fim de mês. Não, não era um prick, uma brincadeira. Infelizmente, não. Justo agora?, pensei.

Como disse no outro post, eu talvez ia falar sobre a questão 'pra onde ir'. Ainda bem que disse talvez. Parece que até sentia que algo ia acontecer... Bom, pra ser sincera a experiência me ensinou sobre isso há muito tempo. Não há como afirmar nada com 100% de certeza. Há as coisas que a gente como ser humano planeja e há o que Deus, o destino, a vida em sí, às vezes, quer que aconteça. E assim foi desta vez.

Então agora, a questão não é bem pra onde ir, mas quando ir. Que é outro detalhe importante que ainda não resolvi. Ontem, em pleno dia de trabalho, não pude fazer quase nada. Não havia concentração pra nada... Estaria o destino já dando o jeitinho dele por mim? Será que seria melhor ir embora logo em junho?

Fingia que não ouvia perguntas como estas que estavam circulando minha mente. Mas há quem enganar? A mim mesma? No fim, graças a Deus, decidi que o melhor era sair pra dar uma voltinha. Afinal de contas, o dia em NY estava lindo, soleado, ameno, convidativo. Então, fui. Como tinha que ir ao banco decidi ir a pé a um que fica a algumas quadras daqui de casa. Pensei que talvez assim pudesse tirar aquela confusão mental em que me encontrava. Sabia que a solução chegaria com o tempo, então fui com poucas expectativas de encontrar soluções.

Minha primeira conclusão? Bom, minha irmã, que mora e trabalha aqui em NY, me disse que perto de seu serviço havia uma comunidade pequena de chilenos e uma padaria típica. E só recentemente ficou sabendo que tinham outra idêntica aqui em Astoria. Tentamos ir lá duas vezes já. Mas estava fechado. Não é longe, mas também não tão perto. Mas dava pra ir andando. Coincidentemente era bem perto do banco onde ia. Como ainda estava com fome, decidi que iria lá também. Então, logo no começo da minha caminhada, pensei... pra onde ir primeiro... pro banco ou pra padaria? Que rua tomar? Rapidamente conclui que o destino não importava, que o que importava era o caminho. Não tinha pressa em chegar lá. Só queria acalmar a mente.

Uma simples conclusão como essa, me fez pensar que realmente isso se aplica a minha vida agora. Tanto faz o destino, é a caminhada que sempre importou. É o caminho a percorrer. Chegar lá pela direita ou pela esquerda, não importa tanto. Nem a velocidade da caminhada.

Enfim, fui ao banco primeiro e depois à padaria. Impresionante, a empanada era igual às feitas no Chile, típica chilena. Uma delícia. Adorei o lugar, limpinho, agradável e com coisas do Chile que não via a séculos: bolachinhas, caramelos, sucos, tortas, bolos... tinha até minha bala favorita de hortelã, mentitas, muito legal. Perguntei à simpática atendente, há quanto tempo estavam lá e me disse há 10 anos. Ironia, não? Todos esses mesmos anos morando aqui. Em Astoria, onde moro, há pelo menos 4 e nunca, NUNCA, soube que havia uma padaria chilena aqui no bairro.

Fiz amizade, descobri que tinha um serviço pra enviar coisas pro Chile e li um aviso do serviço de imigração na parede que falava sobre alguns beneficios para os chilenos por causa do terremoto e depois fui comer minha empanada deliciosa. Daí, pensei. Como pode, que em todos esses anos eu não tenha sentido a menor falta de um lugar chileno como este? Claro que é legal comer empanada e ver gente do Chile, e mesmo sabendo que é diífcil encontrar chilenos aqui nunca fui atrás pra descobrir. Realmente nunca me fez falta isso. Minha familia, sim. Mas não tudo o mais de lá.

É, a verdade é essa minha gente, meus amigos. A verdade é que eu não me considero tão chilena como me considero brasileira. E apesar de não ser só brasileira, é inegável o legado dos meus pais, sua influência e a da minha familia que quase inteira mora no Chile, acredito que lá não seja o destino final. Pelo menos, não agora. Eu adoro, amo mesmo o Chile, de todo coração. Minha experiência lá foi única. Sou muito abençoada, muito mesmo, que meus pais sejam de um país tão maravilhoso como esse. As pessoas, a natureza, tudo tudo é tão gostoso e bom... mas meu país, apesar de tudo, de tudo o que dá raiva e decepciona, é o Brasil.

Eu sempre soube disso. Mas me sinto melhor sabendo que essa é minha verdadeira origem. Dizem que o herói da mitologia sai em uma jornada em busca de algo melhor... de experiências. Mas esse herói sempre acaba voltando às origens. Bom, essas são as minhas. Minha vida não será completa sem meu retorno, disso sempre tive consciência.

Claro que, eu esperava voltar de maneira mais tranquila. Ter, pelo menos uma vez na vida, a chance de não fazer uma mudança drástica. Deseja ir de passeio, daí decidir quando e onde voltar. Mas não. Na minha vida têm que ser assim mesmo, pelo visto. A verdade é essa. É 8 ou 80. Aqui ou lá. Não tem meio termo. Sempre sozinha, sempre guerreira. Sempre começando do zero.

Eu já sabia disto há alguns meses atrás, tinha decidido que não podia continuar como continuo. Sem ver minha familia, vivendo uma vida que acredito ser "escrava", presa em uma gaiola. Não, não dava mais. Mas isto só se concretizou esta semana quando falei com meu chefe. Depois falarei mas sobre isso, pois não quero que certos sentimentos negativos venham à tona. Enfim, ainda estava tentando me recuperar do fato de que perdia tudo aquilo que me dava estabilidade, que me dava chão. Do "terremoto" pessoal que vivi, que venho vivendo... e daí veio essa bomba... essa bomba relógio e agora tenho ainda menos tempo para decidir. 'O tempo não para', bem dizia Cazuza.

As pessoas não entendem direito porque eu não posso ir e vir do país, dos EUA. Talvez fale sobre isso no próximo post. Mas por enquanto vou dar um break... preciso resolver várias coisas, Entre elas, mais uma coisa, preciso ver se consigo alguém pra alugar o quarto temporáriamente. O lado bom dessa história toda é que consegui um serviço ótimo pra enviar minhas coisas pro Chile. Hoje vou comprar caixa e começar a separar o que é lembrança e não servirá no Brasil: como roupas de inverno. Mas, se preocupem não, que eu volto logo. :)