Friday, April 2, 2010

Algumas verdades no dia da mentira: O Tempo Não Para

Parece coisa de dia da mentira... Minha roommate querida, a garota que divide o apartamento aqui comigo, enviou um email no dia da mentira dizendo que ia se mudar no fim de mês. Não, não era um prick, uma brincadeira. Infelizmente, não. Justo agora?, pensei.

Como disse no outro post, eu talvez ia falar sobre a questão 'pra onde ir'. Ainda bem que disse talvez. Parece que até sentia que algo ia acontecer... Bom, pra ser sincera a experiência me ensinou sobre isso há muito tempo. Não há como afirmar nada com 100% de certeza. Há as coisas que a gente como ser humano planeja e há o que Deus, o destino, a vida em sí, às vezes, quer que aconteça. E assim foi desta vez.

Então agora, a questão não é bem pra onde ir, mas quando ir. Que é outro detalhe importante que ainda não resolvi. Ontem, em pleno dia de trabalho, não pude fazer quase nada. Não havia concentração pra nada... Estaria o destino já dando o jeitinho dele por mim? Será que seria melhor ir embora logo em junho?

Fingia que não ouvia perguntas como estas que estavam circulando minha mente. Mas há quem enganar? A mim mesma? No fim, graças a Deus, decidi que o melhor era sair pra dar uma voltinha. Afinal de contas, o dia em NY estava lindo, soleado, ameno, convidativo. Então, fui. Como tinha que ir ao banco decidi ir a pé a um que fica a algumas quadras daqui de casa. Pensei que talvez assim pudesse tirar aquela confusão mental em que me encontrava. Sabia que a solução chegaria com o tempo, então fui com poucas expectativas de encontrar soluções.

Minha primeira conclusão? Bom, minha irmã, que mora e trabalha aqui em NY, me disse que perto de seu serviço havia uma comunidade pequena de chilenos e uma padaria típica. E só recentemente ficou sabendo que tinham outra idêntica aqui em Astoria. Tentamos ir lá duas vezes já. Mas estava fechado. Não é longe, mas também não tão perto. Mas dava pra ir andando. Coincidentemente era bem perto do banco onde ia. Como ainda estava com fome, decidi que iria lá também. Então, logo no começo da minha caminhada, pensei... pra onde ir primeiro... pro banco ou pra padaria? Que rua tomar? Rapidamente conclui que o destino não importava, que o que importava era o caminho. Não tinha pressa em chegar lá. Só queria acalmar a mente.

Uma simples conclusão como essa, me fez pensar que realmente isso se aplica a minha vida agora. Tanto faz o destino, é a caminhada que sempre importou. É o caminho a percorrer. Chegar lá pela direita ou pela esquerda, não importa tanto. Nem a velocidade da caminhada.

Enfim, fui ao banco primeiro e depois à padaria. Impresionante, a empanada era igual às feitas no Chile, típica chilena. Uma delícia. Adorei o lugar, limpinho, agradável e com coisas do Chile que não via a séculos: bolachinhas, caramelos, sucos, tortas, bolos... tinha até minha bala favorita de hortelã, mentitas, muito legal. Perguntei à simpática atendente, há quanto tempo estavam lá e me disse há 10 anos. Ironia, não? Todos esses mesmos anos morando aqui. Em Astoria, onde moro, há pelo menos 4 e nunca, NUNCA, soube que havia uma padaria chilena aqui no bairro.

Fiz amizade, descobri que tinha um serviço pra enviar coisas pro Chile e li um aviso do serviço de imigração na parede que falava sobre alguns beneficios para os chilenos por causa do terremoto e depois fui comer minha empanada deliciosa. Daí, pensei. Como pode, que em todos esses anos eu não tenha sentido a menor falta de um lugar chileno como este? Claro que é legal comer empanada e ver gente do Chile, e mesmo sabendo que é diífcil encontrar chilenos aqui nunca fui atrás pra descobrir. Realmente nunca me fez falta isso. Minha familia, sim. Mas não tudo o mais de lá.

É, a verdade é essa minha gente, meus amigos. A verdade é que eu não me considero tão chilena como me considero brasileira. E apesar de não ser só brasileira, é inegável o legado dos meus pais, sua influência e a da minha familia que quase inteira mora no Chile, acredito que lá não seja o destino final. Pelo menos, não agora. Eu adoro, amo mesmo o Chile, de todo coração. Minha experiência lá foi única. Sou muito abençoada, muito mesmo, que meus pais sejam de um país tão maravilhoso como esse. As pessoas, a natureza, tudo tudo é tão gostoso e bom... mas meu país, apesar de tudo, de tudo o que dá raiva e decepciona, é o Brasil.

Eu sempre soube disso. Mas me sinto melhor sabendo que essa é minha verdadeira origem. Dizem que o herói da mitologia sai em uma jornada em busca de algo melhor... de experiências. Mas esse herói sempre acaba voltando às origens. Bom, essas são as minhas. Minha vida não será completa sem meu retorno, disso sempre tive consciência.

Claro que, eu esperava voltar de maneira mais tranquila. Ter, pelo menos uma vez na vida, a chance de não fazer uma mudança drástica. Deseja ir de passeio, daí decidir quando e onde voltar. Mas não. Na minha vida têm que ser assim mesmo, pelo visto. A verdade é essa. É 8 ou 80. Aqui ou lá. Não tem meio termo. Sempre sozinha, sempre guerreira. Sempre começando do zero.

Eu já sabia disto há alguns meses atrás, tinha decidido que não podia continuar como continuo. Sem ver minha familia, vivendo uma vida que acredito ser "escrava", presa em uma gaiola. Não, não dava mais. Mas isto só se concretizou esta semana quando falei com meu chefe. Depois falarei mas sobre isso, pois não quero que certos sentimentos negativos venham à tona. Enfim, ainda estava tentando me recuperar do fato de que perdia tudo aquilo que me dava estabilidade, que me dava chão. Do "terremoto" pessoal que vivi, que venho vivendo... e daí veio essa bomba... essa bomba relógio e agora tenho ainda menos tempo para decidir. 'O tempo não para', bem dizia Cazuza.

As pessoas não entendem direito porque eu não posso ir e vir do país, dos EUA. Talvez fale sobre isso no próximo post. Mas por enquanto vou dar um break... preciso resolver várias coisas, Entre elas, mais uma coisa, preciso ver se consigo alguém pra alugar o quarto temporáriamente. O lado bom dessa história toda é que consegui um serviço ótimo pra enviar minhas coisas pro Chile. Hoje vou comprar caixa e começar a separar o que é lembrança e não servirá no Brasil: como roupas de inverno. Mas, se preocupem não, que eu volto logo. :)

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