Monday, April 5, 2010

A Vida nos Estados Unidos da América - Part II

As pessoas costumam brincar, "tenho boas e más notícias, qual você quer primeiro?" Algumas vão com as más primeiro, e outras com as boas.

No último post tentei contar minha vida aqui em termos de status imigratório. Mencionei que o pior momento que vivi aqui foi na época após minha primeira graduação, no meu primeiro período de OPT, onde, supostamente, poderia trabalhar legalmente sem maiores restrições. Mas isto implica falar sobre um tema delicado, então vou dar um tempo e depois postar sobre isso.

Por isso, ao contrário do esperado, decidi começar falando dos momentos bons que tive por aqui. Que afinal de contas, foram vários. Nota: não são lá grandes coisas se comparados com as coisas boas que há no Brasil, mas são coisas boas de qualquer maneira então já está valendo, né?

Por onde começar.... Bom, amor, por exemplo aqui eu já encontrei várias vezes. Pode-se dizer que não há nada melhor que namorar em Nova York, principalmente na primavera ou inverno. Uma delicia. Dou alguns exemplos, ir ao Lincoln Center ver um espetáculo lindo com um italiano que te chama de "principessa" ou dar uma voltinha pelo Central Park com um americano que te trata como uma dama, ou ver filminho na casa do namorado em pleno dia de neve, não tem preço. Nem tem preço, quase mudar de religião (detalhe: não sou religiosa) ou de país por causa de um amor. Ainda bem que não fiz nem um nem o outro, mas vivi isso.

Ok, então namorar aqui é uma coisa boa. Essa é a primeira coisa boa.

A segunda? A mudança de estação. Principalmente na primavera e o outono, que são lindos demais. O verão é ótimo também. E a neve em dezembro, bom ela é sempre bem-vinda e maravilhosa. Pena que fica voltando em janeiro, fevereiro, março, urghhh e não vai sozinha né, o frio vêm com ela e não deixa a gente muito feliz.

Quer mais? Pra encerrar acho que o melhor mesmo é ter morado em Nova York. Muita cultura, nas ruas, nos teatros, em qualquer lugar. Até no hospital, na escola ou nos banheiros públicos a gente vê a diversidade. O melhor de Nova York é esse experiência cultural, as pessoas de todas as partes do mundo, falando e vivendo mil e uma línguas e crenças diferentes. Uma maravilha.

Ok, sinceramente. Há outras coisas menos ambiguas (sim, pois o de cima também pode ser um pain in the neck, uma chatice)que são boas por aqui. Por exemplo, segurança. Sim, essa é uma coisa que é extremamente boa por aqui. Se você morar perto de Manhattan quase não há problemas. Nada como no Brasil. Disso sim foi sentir muita falta. Claro, que há de se considerar os malucos esporádicos que dão chutes ou facadas nas pessoas do nada no subway, o metrô americano. Claro que, você tem que ter muito má sorte pra sofrer desse tipo de "atentado".

Independência e "liberdade". Apesar de não ter carro e não precisar de carro pra nada morando onde moro, confesso que me sou muito independente aqui. Faço o que bem entender e se quiser sair não dependo de nada ou ninguém, só pego o metrô e pronto em um pulinho (com sorte) eu chego lá, em qualquer lugar da cidade. A liberdade vem com a capacidade de me auto-sustentar e estar longe da familia. Sim, sei que é um paradoxo (pois sinto muito a falta da familia, dos meus pais) mas sou dona do meu nariz desde os 12 anos, quando morei pela primeira vez "sozinha" então sentirei a falta dessa minha "liberdade", que aliás, vai de mão dada com o fato de poder chegar tarde em casa sozinha sem ficar com medo de ser assaltada a cada esquina.

Também há a questão do poder aquisitivo, apesar de não ganhar muito posso com meu salário pago minhas contas e faço coisas que na época que morava no Brasil não podia (como sair pra jantar em lugar bacana, ir ao teatro ou pegar mais de um cineminha por mês - coisa que, aliás, eu adoro fazer). Pode-se também comprar coisas aqui fácilmente (no cartão, que aliás agora também é comum no Brasil ou Chile) mas aqui nem falar sobre os preços das coisas, especialmente de aparelhos eletrônicos, que geralmente são baratíssimos. A educação, por exemplo, também foi muito mais acessível aqui pra mim que no Brasil (leia meu post anterior sobre isso). Estou comparando, é claro, com a minha vida em 1999, um ano antes de vir para cá. E no que se refere ao trabalho, sempre pude fazer algo e me virar para ganhar um dinheirinho mesmo sem renda fixa, sempre com coisas bacanas e honestas.

Acho que esses últimos motivos realmente são em grande parte uns dois maiores motivos de ter ficado por aqui todos estes anos. Afinal, este país me deu a oportunidade de estudar e trabalhar, mesmo que sendo muitas vezes nos termos dele, às vezes, com muita injustiça e jogo sujo. Ainda assim, por exemplo, encontrei aqui pessoas maravilhosas, verdadeiros anjos no meu caminho. Minha primeira faculdade, por exemplo, não tinha obrigação nenhuma em me ajudar e, no entanto, me ofereceu não só uma bolsa, como duas!! E por aí, vai. Devo em grande parte o sucesso dos meus estudos ao meu trabalho como instrutora de idiomas, e aos meus alunos, amigos e grande professores, que de uma forma ou de outra contribuiram em grande parte à minha felicidade nesses anos todos. Sem eles, tudo isto teria sido impossível.

E, finalmente, sou muito grata em ter conhecido pessoas maravilhosas, como minha amiga do Peru cuja jornada na América temos compartido nos últimos anos. Amigos brasileiros que de uma forma ou de outra me deram um mão e foram minha familia todos estes anos. E, claro, não podia faltar meu grande amigo americano que me ajudou a concretizar meu sonho, o David, figuraça que já alguns anos mora no Rio de Janeiro.

Agradeço até a quem me fez sofrer algum dia. Acredito que mesmo as experiências ruins foram em verdade, boas. Por isso, vejo como bom o fato de ter conhecido certas pessoas e passado por certas experiências, dentre elas, minha desilusão amorosa, o ataque às torres gêmeas, conflitos familiares, minha frustração com o trabalho e, principalmente, a dor da separação e descriminação vividas aqui no dia a dia, somados à minha falta de liberdade, liberdade para poder entrar ou sair do país.

No fim das contas, a vida aqui pode ser muito boa ou muito ruim, assim como no Brasil e confesso que, pelo menos comparada à vida que levava em São Paulo antes de vir pra cá, a vida tem sido relativamente boa. Mas o preço para essa vida "tranquila" é a má notícia. Oh well, eu nunca disse que a vida aqui era perfeita, disse? (risos)

Deixo com vocês essa música que simplica bem minha vida aqui em Nova York. "I'm alien, I am legal alien... I am 'Englishman' - in this case a 'Braziliangirl' - in New York."



" If, 'Manners maketh man' as someone said
Then he's the hero of the day
It takes a man to suffer ignorance and smile
Be yourself no matter what they say "

2 comments:

  1. Acho que sua experiência pode servir para muitos jovens que ainda sonham em morar nos USA. Experiênci muito valiosa e rica. Por que não colocar em um livro??!!

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  2. Sim, estou pensando em algo parecido também... Vou escrever um livro um dia sim, por isso comecei o blog. ;) Obrigada pela força, amigo!!

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