Monday, April 5, 2010

A Vida nos Estados Unidos da América - Part I

Pois bem, disse que iria falar sobre o porquê não posso ir e vir deste país. Afinal, não estou aqui ilegalmente. Ou seja, se saio supostamente poderia voltar. Sim, na teoria. Acontece que a vida de imigrantes aqui nos Estados Unidos não é assim tão simples, pelo menos não para os que, como eu, vieram pra cá por conta própria, que não contam com recursos de pais e mães ou tios e tias ou qualquer que seja a fonte de renda para poder se manter no país.

Este post é dedicado à Miriam Carol que me escreveu recentemente perguntando sobre como é a vida aqui nos EUA. Ela pensa em vir pra ficar. Antes de mais nada, me desculpe Carol, não tenho tido tempo pra muita coisa últimamente. Ainda mais quando soube que minhas opções de ficar aqui se acabam. Mas espero que este e os próximos posts te sejam úteis.

Bom, a vida aqui na América, não é diferente do que a vida em qualquer outro lugar no mundo. Claro que varia de estado pra estado, e obviamente será bem diferente que a tua vida do Brasil - ou do Chile, do Japão, etc. ou de onde quer que seja que você venha. Mas não é muito mais diferente do que você imagina, você terá "sorte" ou "má sorte", você terá mais chances ou menos oportunidade tanto faz se for aqui, no Brasil ou na China. Não há nem menor, nem maior chance de sucesso. Tudo depende de você. Os problemas que você carrega ou crêe possuir no Brasil, continuarão aqui. Aqui não é um lugar mágico que faz com que tudo seja de repente maravilhoso.

Com isto dito, posso falar de algumas diferenças. Que aliás, são uma coisa que realmente é bem pessoal. Eu tendo já vivido em outro país, antes de vir morar aqui, já passei por experiências que me fizeram entender melhor o que é morar fora da pátria. Eu morei no Chile por cerca de 5 anos quando ainda era adolescente. Bom, se você vêm aqui pra morar e é a primeira vez que sai do país, será um coisa. Se você já veio de visita (uma vez ou várias vezes) e acha que sabe como é, terá outra experiência. De todas formas, qualquer que seja tua experiência, nada quer dizer que ela será similar à minha. Mas sei que a curiosidade mata e que algo a gente pode sempre aprender com outros, então aqui vai a Part I da minha vida nos EUA.

Primeiro, vou falar da questão do visto. Afinal, você tem que entrar no país de alguma forma. Ou entra legalmente por avião ou ilegalmente (atravessa a fronteira pelo México ou sei lá como). Dependendo do visto que você vier, chegando aqui terá algumas opções, ou nenhuma. Sei lá. Também depende do teu poder aquisitivo e tua condição no país. Se vieres com teu marido ou esposa, por exemplo, tua experiência poderá ser muito mais amena (ou não) dependendo o tanto que conheceres a pessoa com que te casaste. Enfim, coisas da vida.

Vou falar da minha entrada aqui. E isso explica bem a minha situação atual e a que vinha vivendo nos últimos 2 a 3 anos, ou mais que aqui estou. Eu vim pra cá como turista. Na verdade eu vim para um programa de intercâmbio, quando ainda trabalhava na Varig Rio-Sul, que hoje acredito nem exista mais. Neste programa iria aprender inglês morando em uma casa de familia e teria que cuidar de um bebê por poucas horas em troca de um pequeno "salário" e aulas de inglês. Como era mais fácil tirar o visto de turista, o que foi por alguma razão, extremamente simples, decidi vir aqui com ele e tentar ficar por uns 3 a 6 meses. O acordo com a familia se supõe que era de 1 ano, mas como não vim por agência mais indicação de uma amiga que estava aqui, e que sim pagou agência, eu vim e daí decidi fazer como ela, fazer uma extensão da estadia como turista por conta própria. Ao fim dos 9 meses e 1/2 e com muitas experiências pra contar, principalmente já tendo um inglês bom, decidi voltar no inverno e vir pra cá novamente no ano seguinte. Como não pude ir à escola enquanto morava aqui e julgava que meu inglês escrito era pior que o meu falado, quis vir por mais pelo menos 6 meses. Então, voltei ao Brasil, tudo isso aconteceu no ano 2000, e resolvi tudo o que tinha por resolver, peguei meu diploma de colegial, fui resolver uma disputa que tinha com a Varig - um pagamento que não recebera - daí fui para o Chile ver minha familia por última vez. Sonhava em vir e ficar um tempo curto mas não saia de cogitação ficar mais tempo se é que conseguisse um bom trabalho e pudesse juntar dinheiro suficiente para poder estudar no Brasil, fazer faculdade ou talvez me tornar uma piloto que na época eram meus dois grandes sonhos.

Voltei pra cá em 2001, em abril. Estou aqui desde então. O que aconteceu? Bom, a vida. A vida aconteceu. Conheci um homem americano, me apaixonei, decidi ao em vez de estender meu visto de turista trocar para estudante. Como acabara decidindo por fazer faculdade ao em vez de seguir o curso que havia visto de aviação que me daria carreira de instrutora de vôo, fiz toda a papelada para ficar aqui legalmente como tal. Tudo isso 1 mês antes do 11 de setembro.

A partir daí, tudo mudou. Não se podia entrar ou sair do país - literalmente. A papelada ficou congelada por mais de um ano. Sem saber se sair ou ficar ao passar o tempo, fui ficando. Minha relação acabou e minha irmã acabou vindo no ano seguinte para me ajudar. Essa foi a primeira vez que fui ficando "up in the air", assim sem saber o que seria da minha vida. Bom, daí coisas boas, muito boas, e ruins aconteceram. O pior que foi o broken heart e o atentado terrorista, e consequente recessão, já tinham mais ou menos passado. Finalmente me concederam o status de estudante e assim, com um inglês falado já muito bom, comecei a estudar no fim de 2002 em uma escola de idiomas. Alí conheci muitas histórias, fiz muitas amizades, com brasileiros, principalmente, que conheço até hoje. Alguns vieram com visto de estudantes, outras como eu vieram como turistas e aqui trocaram.

Enfim, apenas haviam passado 2 anos e eu acostumada com estar longe da familia, graças a minha experiência anterior de morar no Chile, e já forte com as próprias experiências da vida, decidi que iria tentar pelo menos um curso de formação acadêmica aqui. Minha irmã estava aqui e apesar de nosso relacionamente ser díficil (sempre foi) de certa forma nos apoiávamos. Decidi tentar um curso que aqui se chama A.A. ou Associate Degree. Que são de dois anos, aproximadamente. Na época, saíamos da recessão e recém descubrira meu talento para dar aula de idiomas. Eu fazia de tudo, era hostess (anfitriã em restaurantes chiques), babá de gente rica (morei um tempo em Washington Park) e dava aulas para estrangeiros buscando aprender português ou espanhol.

Como vi que o valor desse curso era acessível, oferecido em uma Universidade pública, aqui em Nova York do CUNY, City University of New York, chamada Community College e que me ajudaria muito com meu inglês, era de Writing and Literature, decidi fazê-lo. Afinal, não era extraordianariamente caro, apesar de ser bem mais caro para estudantes internacionais como eu. E como não queria ficar aqui ilegalmente, então pensei que seria uma ótima ideia.

Aqui nesse momento acredito que o melhor teria sido voltar e tirar o visto de estudante. Talvez tivesse sido um erro, mas dei ouvido à escola onde iria estudar e fiquei com medo de viajar. Afinal, aqui só tinha status de estudante e se saísse do país teria que entrar com toda a papelada no consulado novamente e ser questionada. Como não possuia mais dinheiro do que o suficiente para 1 ano e meio acadêmico e a pessoa que me ajudara com os papéis para o processo, como sponsor (uma espécie de fiador), já era um americano aposentado, decidi ficar aqui. As chances de conseguir tirar o visto de estudante fora do país (no Chile ou Brasil) eram mínimas e baseado em experiências de várias amigas e colegas de curso na escola de idiomas, ter um visto de estudante, tampouco era garantia de voltar ao país. Uma amiga, inclusive, ao ir ao Brasil de férias, não conseguiu mais entrar no país, simplesmente por implicância do sistema de imigração americano que achava que ela já aprendera o suficiente inglês e não tinha motivo pra voltar (isso sem considerar que ela era jornalista e precisava ainda aperfeiçoar seu inglês). Há de se lembrar que estávamos vivemos em plena era Bush e post 11 de setembro e tudo era ainda muito confuso e mudando constantemente. Havia muita desconfiança, o terror e o medo eram espalhados pela mídia constantemente, já que tentavam vender 'The War on Terror', ou seja, a guerra ao terrorismo.

Enfim o que está feito, feito está. Mas por nada deste mundo aconselho ninguém a fazer o que fiz. Talvez dada a oportunidade de fazer tudo de novo, essa parte da minha vida teria feito diferente, por uma série de razões. Mas, assim foi e assim tinha que ser.

A coisa é que no meu primeiro semestre na faculdade, perdi o emprego que tinha, assim de repente, e para variar o custo da faculdade aumentou muito para estudantes regulares e pra mim, como estudante estrangeira, aumentou ainda mais. Ou seja, já o meu dinheiro não daria sequer para estudar aqui 1 ano. Agradeço muito a Deus as oportunidades que foram surgindo na época e desde então. Realmente não sei o que teria feito sem sua ajuda.

Demorei aproximadamente 3 anos para concluir o curso. Isso porque decidi não estudar no verão para poder trabalhar. Trabalhava na universidade, 2 empregos, fazia trabalho voluntário (como peer-mentor), e tinha mais dois trabalhos fora da faculdade. De alguma forma ou de outra dei conta e com ótimas notas. Quase tive que deixar a universidade por causa da falta de recursos, mas tenho muito a agradecer, pois a universidade me ofereceu a chance de ganhar uma bolsa, e a ganhei o que me ajudou tremendamente, ainda ganhei uma segunda bolsa (de menor valor) no último ano e sai bem da faculdade. Bom daí, já foram 5 anos da minha vida.

Aqui nos EUA, se você está como estudante internacional, quando se completa o curso, você pode tirar um ano, que eles chamam de OPT (Ou-Pi-Ti não é Tchi é Ti, tá?) que significa Optional Practical Training, para trabalhar, que você pode fazer se é relacionado ao curso que estudou. Inclusive, enquanto se estuda, e dependendo das regras da faculdade que estudar, pode-se também tirar o CPT, ou Curriculum Practical Training. Que foi o que fiz quando decidi continuar meus estudos.

Bom, depois de tudo isso decidi aproveitar meu ano de OPT e ver se conseguia trabalho e com sorte, sim com sorte, ver se conseguia um trabalho que me contratara e me ajudara a trocar para o visto de trabalho. Essa parte da minha vida aqui foi a mais difícil que já vivi. Daria motivo para um post ou dois, talvez o próximo será sobre o assunto.

Completei o OPT em 2006 e decidi voltar a estudar, terminar meu B.A., Bachelor Degree, em 2007. Daí, foram-se mais 2 anos e meio, e aqui estamos minha gente. Já 9 anos no país, 10 anos no total. E o motivo de não entrar e sair vocês já sabem... se minha familia fosse rica seria menos humilhante ir ao consulado e conseguir o visto de estudante, mas como não são, tudo fica mais complicado. Tudo o que consegui, consegui por mim mesma, digamos assim. Então, se tivesse que dar meu recado aos desavisados é que pensem muito bem em vir e morar ilegalmente (ou legalmente, se possui poucos recursos) neste país. Se o fizer, pensem bem pois 1 ano, transforma-se rápido em 2 e 3. E depois de 3, você já acostumou e não quer voltar. E depois de 4 ou 5, você já está louco de saudade (experiência de quem já morou fora antes de vir pra cá e que teve experiências longe da familia e amigos há anos), o famoso 'síndrome de imigrante'.

Por isso, se quiser vir ficar ilegal uns 2 anos ou 3, pra juntar dinheiro e ver se consegue sorte por aqui (sorte, se referindo em casar com alguém bacana ou fazer algo que gosta que talvez te dê um visto - ou fama, ou dinheiro) deve ser do tipo de pessoa que é super disciplinada. Brasileiro geralmente não é. Não pode ser uma pessoa fraca de pensamento. Tem que ter coragem, que confesso, não tenho. Eu não consegui ficar aqui ilegalmente em parte porque acreditava no sistema imigratório deste país, que apesar de falho e dar muito a desejar ao de outros países, como o do Canadá, por exemplo, acreditava que pudesse servir pra alguma coisa, e também porque acredito que fazer a coisa certa (ou o mais certo possível) sempre paga no final.

Caros amigos, não é bem assim. Essa conclusão eu tirei já faz tempo. E difícilmente mudo de opinião. Se tivesse que aconselhar alguém que, como eu, vem aqui com sonhos de estudar e ter uma carreira, eu diria melhor vem, fica ilegal e depois volta. Mas saiba que o que irá se encontrar não é pra qualquer um. Aqui, se você fica doente, não há quem te ajude, os próprios brasileiros passam a perna em você, amizades verdadeiras são díficies de fazer e se você sentir saudades, ou acontecer uma tragédia, não dá pra sair e voltar pra cá. Ter ficado legal aqui pra mim, não fez nenhuma diferença. Isso é fato. Não sei como será nos próximos anos, mas o futuro não se vê lá muito promissor para os imigrantes neste país. Não enquanto não houver uma reforma, reforma mesmo. Sinceramente, só perdi e continuo perdendo oportunidades por fazer a "coisa certa". Talvez puesse ter dado certo, como já deu no caso de minha irmã ou uma amiga que seguindo meu conselho decidiu fazer um curso de certificado que após 9 meses lhe deu OPT, e com ele (ela que já tinha um curso de BA no Brasil) conseguiu um emprego. Claro que trabalha pra caramba e ganha mal... mas pelo menos ela sai e entra do país quando quiser.

Como disse, a sorte e a vida não são diferentes por estar aqui. Ou seja, você pode encontrar o príncipe encantado ou seu sapo se transformar em um monstro. Você pode fazer muito dinheiro ou perdê-lo, você pode ter um bom dinheiro e viver amargado, ou você pode fazer o que fiz, escolher o caminho mais árduo e ser feliz com o que a vida lhe der, com o pouco ou muito que irá receber pelas escolhas que fez.

Pra chegar onde estou, que não é lá grande coisa (materialmente falando) sofri muito, mas muito mesmo. Mas não me arrependo de nada. Talvez faria uma coisa ou outra diferente, dada a oportunidade, mas não deixaria de fazer o que fiz. Mas se quer meu conselho, e isso vai pra vida em geral: viva a vida intensamente, como se não houvesse amanhã. Viva acreditando em dias melhores, mas preparado para enfrentar o pior. E seja feliz com o que a vida te der, sem se conformar. Aprender a aceitar o que der e vier e ser agradecido pelo que se tem, é uma das mais valiosas lições que já aprendi na vida. Aprendi elas aqui, mas servem pra qualquer lugar.

3 comments:

  1. Simone, o mais difícil você já tem: uma história pra contar e uma rica história. Você realmente tem muito o que agradecer e afinal, a coisa certa é apenas a decisão que tomamos e sabe se Deus não está por trás dessas nossas difíceis decisões e nos encaminha pelo melhor dos caminhos. Essa visão mais alta nós ainda não temos, mas as decisões que você deixou de tomar poderiam ter te levado a um desastre, por isso acredito que você saiu rica e forte dos caminhos que você percorreu. Você tem fortaleza pra poder escolher o que você quiser pra viver. Relaxe, você tomará a melhor decisão, sempre.

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  2. Obrigada, Bernadete. Eu acredito nisso também. Sei que fiz o melhor que pude fazer, e há um motivo pra tudo. Como sempre, as únicas decisões que ficam na dúvida, são aquelas que não foram tomadas. Por isso, vou seguindo em frente. Com ou sem a certeza se haverão dias melhores. O importante é agir e acreditar, sempre. Beijinhos.

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  3. Gostei do Poster!! Eu tenho 15 anos de idade e estudo a alguns meses ingles por conta própria... meu desejo é com 20 anos me naturalizar americano e ir pra orlando Legalmente é claro...Vc poderia me mandar um depoimento de como vc fez para estudar o ingles???

    Se poder simone me mande um email: band.lifehouse9@gmail.com

    Obrigada...Bjss.

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