Tuesday, April 6, 2010

A Vida nos Estados Unidos da América - Part III

Como começar? Escrever este post não será fácil, mas como tudo na vida que vale a pena, é necessário. Além do mais disse que iria dar os dois lados da moeda. E promessa é dívida.

Como é díficil falar isso, achei este vídeo que resume bem a minha situação. É de um filme que simboliza minha maior frustração neste país. O filme se chama "The Pursuit of Happiness" ou "À Procura da Felicidade", como diz o título em português. O filme, pra quem não assistiu, se trata da história real de um homem americano negro nos anos 60 que teve que encarar alguns obstáculos mas que no fim venceu. Esta cena do filme pra mim é tudo. A história pode até parecer simples demais (ele apenas conseguiu um emprego) mas não é. Ao passar no processo seletivo, essa oportunidade que lhe concederam, mudou pra sempre a sua vida.

Assitam a esta cena, a última do filme, e pensem em mim, e também pensem na história de milhares de imigrantes que com inteligência, dedicação, sacríficio e muita coragem, assim como ele, não terão a oportunidade de ter um final feliz.



Na parte em que Will Smith, o ator que interpreta o americano Chris Gardner, está na sala e lhe perguntam se ele aceitaria o trabalho, você sente a emoção do ator. Não é necessário assistir o filme pra entender, muito menos é necessário entender inglês, é tão clara a sensação de vitória e felicidade dele. Nessa hora, o futuro chefe lhe diz "Was it as easy as it looked?" ou seja, lhe pergunta se fora tão fácil como aparentava ser (se refere ao estágio), ao que ele responde, "No. No, Sr. it wasn't" Mas é óbvio que não foi assim tão simples. Se tão só, seu chefe soubesse o duro que foi chegar lá....

Pois bem, essa parte da sua vida, segundo o filme, se chama felicidade. E essa parta da minha vida, essa 'pequena parte' da minha vida, é que ficou incompleta. Tive a mesma experiência desse homem. Bom, não exatamente a mesma, mas parecida. Consegui chegar lá, a sensação de felicidade que ele teve, eu tive. Pode-se dizer que vivi o que ele viveu no fim do filme. Mas infelizmente no meu filme, na minha vida, a história não acabou alí. Ela continuou e esse foi o problema.

O despertar foi cruel. Perder um emprego daqueles foi uma das coisas mais dificéis que vivi na vida, com certeza foi a pior coisa que enfrentei aqui. Fora um emprego apenas, mas que me daria a chance, a oportunidade pra tanta coisa. Vocês imaginam o que é passar por tudo isso, vencer e depois perder tudo. E porque? Por ser estrangeira, simplesmente por isso.

Vejo engenheiros, doutores, gente inteligentíssima que vem pra este país, esta cidade, de todas as partes do planeta, de países, por vezes, piores que o nosso, e eles tem que fazer trabalhos que nem sempre correspondem à suas capacidades: trocando fraldar, dirigindo taxis, etc. Vivemos sonhando, em busca da bendita felicidade mas ela não vêm ou se vêm não é verdadeira.

A realidade, no entanto, é dura pra todos. Nesses dias de recessão, e nessa vida moderna que vivemos, não existe mais estabilidade na vida, nem mesmo para os americanos. Sei bem disso. Mas o que eu vivi, o que ainda vivo, só alguém que está na minha pele pode entender. O preconceito, a falta de respeito, por falta de um simples papel, um documento, que não quer dizer nada, mas que, no fim das contas, diz tudo, é deprimente.

Se tivesse que escolher o motivo principal da minha insatisfação neste país, escolheria de longe esse. Não acho que seja certo viver assim, todos somos seres humanos e não merecemos ser tratados dessa forma. Eu não preciso de ninguém me dizendo o que posso ou não fazer, por me considerarem inferior. Eu sou estrangeira, mas não tenho menos direito a ser feliz do que você.

Encerro com um recadinho do próprio filme, bem antes do final feliz. Alí o pai dá um conselho ao filho ao dar-se conta que estava podando ele ao dizer o que podia ou não fazer na vida. Ele diz:

"Ei, nunca deixe que ninguém te fale o que você não pode fazer, nem mesmo eu. tá? Se você tem um sonho, tem que protegê-lo. As pessoas não conseguem fazer as coisas por elas mesmas e querem te dizer que você também não pode. Se você tem um sonho, lute por ele. Ponto final! "


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